EM PIRACICABA (SP) 05 DE NOVEMBRO DE 2019

Alunos de História e Psicologia da Unimep focam impactos da violência

Simpósio contou com a participação do jornalista Martim Vieira que abordou o papel da Unimep e participação da Câmara de Vereadores no legado histórico do povo negro




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Alunos de História e Psicologia da Unimep focam impactos da violência




"Nós, estudantes dos cursos de História e Psicologia, convidamos toda a comunidade acadêmica e piracicabana a participarem da roda de conversa". Tema a ser discutido: 'O impacto do silenciamento subjetivo na sociedade'. O objetivo deste encontro é proporcionar um espaço para que discentes, docentes e demais interessados(as) possam se reunir para refletir o quanto nós, pessoas imersas em nossa sociedade, estamos sendo silenciados, cada vez mais atravessados(as) por ideologias e discursos autoritários que buscam deslegitimar formas de ser e estar no mundo em detrimento de outras."

Com este enfoque os estudantes dos cursos de Psicologia e História promoveram na noite de ontem (4), das 19h30 às 22h30, no Auditório Verde, Bloco 2, do Campus Taquaral, amplo debate sobre as mais diferentes formas de violência a que o ser humano está passando na contemporaneidade e, quanto ao Brasil, o momento crucial, onde direitos humanos e conquistas sociais estão sendo renegados pelo sistema vigente. 

Mais de 100 pessoas prestigiaram o evento, que também contou com a participação de líderes partidários, a exemplo da ex-vereadora Rai de Almeida e do presidente do Conepir (Conselho Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Piracicaba), Adnei Araújo e, demais pessoas da sociedade, incluindo estudantes e professores da Unimep. 

O jornalista Martim Vieira Ferreira, do Departamento de Comunicação da Câmara de Vereadores de Piracicaba, que também integrou o rol de palestrantes da noite reiterou a disposição da Câmara, em parceria que possibilitará o resgate histórico do povo negro em Piracicaba. 

No debate também foi considerado o nosso cenário político e social, em função de período de negação das nossas memórias históricas, ancestralidades e problemas sociais, de propagação de notícias e informações falsas, de ataques às políticas públicas, aos povos indígenas, ao meio ambiente e à cultura, de invalidação de sofrimentos individuais e coletivos, de descrédito da ciência e das universidades, de intolerância e incitação à violência, entre outros aspectos, maquiando e camuflando realidades.

"Nessa conjuntura, enquanto sujeitos(as) de direitos, escolhas e liberdade, torna-se fundamental resgatarmos as vias democráticas da participação social e dedicarmos nosso olhar e atenção às implicações desse silenciamento, que tanto ameaça existências e pode ser sentido como mal estar e impotência", enfatizaram os organizadores.

Composição da Mesa Redonda

Andressa Benini Mendes: Psicóloga formada pela UNESP, mestra pela USP na área de ambiente e sociedade, militante do coletivo feminista e anti-racista Marias de Luta. Atua como educadora social e psicóloga social na área de gênero, sexualidade e prevenção às IST HIV/aids.

Martim Vieira Ferreira: Jornalista pós graduado pela USP. Desde 1994 trabalha na Câmara de Vereadores em Piracicaba. Faz parte da diretoria estadual do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de SP e do Conselho da Sociedade Beneficente Treze de Maio. Participou das principais articulações junto à Câmara e à Prefeitura na criação da Lei de Cotas no Serviço Público (5.282/2013), do Feriado de 20 de Novembro, em reverência a Zumbi dos Palmares, e na criação de cursinhos populares.

Vinicius Furlan: Professor e supervisor universitário de Psicologia na UNESP e UNIMEP. Lecionou na Universidade Estadual do Mato Grosso e na UNIFIAN. Cursa doutorado em Psicologia Social pela PUC-SP, pela orientação do professor Antonio Costa, fez mestrado em Psicologia Social pela Universidade Federal do Ceará e se graduou em Psicologia na UNIMEP. Recebeu o prêmio "Psicologia e Direitos Humanos" do Conselho Federal de Psicologia. Trabalha com teoria da identidade, teoria crítica do reconhecimento, filosofia política, psicanálise e psicologia social. É autor do livro "Identidade e acolhimento institucional".

Legado Metodista

O jornalista Martim Vieira discorreu em sua fala sobre o legado metodista no despertar de consciência sobre cidadania, onde a Unimep acolheu o Movimento Negro a partir da década de 80, quando as dependências do Campus Centro, especialmente sala 7 e salão nobre, a partir de 1979 até os anos de 84 a 85 foram locais de inúmeras atividades do Movimento Negro de Piracicaba. 

A decisão do então Reitor Elias Boaventura foi fundamental para abrigar no interior da Instituição o primeiro grupo estruturado da comunidade negra local em consonância com o Movimento Negro Brasileiro, numa época efervescente por direitos civis.

Inicialmente, os integrantes do movimento, representados por cidadãos sem vínculo com a Unimep, se juntaram com funcionários e estudantes, totalizando cerca de 40 pessoas na formação de um grupo de canto coral, sob a regência do Maestro Cantoni.

Além de canções de luta e protestos, com foco no despertar de conscientização sobre a condição de injustiça com o povo negro, o grupo também passou a usar a linguagem teatral e danças, além de seminários com foco em debates sobre a condição social do negro brasileiro, no despertar de consciência sobre esta temática social.

Em pouco tempo, o trabalho do grupo, formado por jovens e pessoas de meia idade, também passou a contar com crianças, em atividades musicais.

Assim, o avanço deste movimento, respaldado pela Unimep ganhou projeção nacional, devido às inúmeras apresentações locais e, também fora de Piracicaba, a exemplo de Campinas, onde o grupo também foi bastante aplaudido.

Em meados dos anos 80, um pesquisador da Universidade de Santa Catarina veio a Piracicaba estudar o porquê o Movimento Negro de Piracicaba ganhava tanta evidência, o que provocou impacto até nas eleições municipais de 1989, na ascensão de um vereador negro – que por sinal é funcionário da Unimep, João Manoel dos Santos -- a ocupar uma cadeira no poder legislativo piracicabano.

Neste período também houve a indicação de uma mulher negra como vice-prefeita (Terezinha Ferraz, líder comunitária – in memoriam), além da nomeação de secretários negros no Poder Executivo Municipal: Marcelo Mattos (Procurador-geral do Município), João Paulo Araújo (Secretário de Esportes) e José Maria Teixeira, presidente da (Emdhap – Empresa Municipal de Desenvolvimento Habitacional) , o que resultou na implantação de diversas leis de proteção ao povo negro.

Foi desta época a criação da lei de reserva de 20% de vagas no serviço público; 40% na publicidade; programa de Anemia Falciforme; convênio com a Sociedade Beneficente Treze de Maio e o feriado municipal no dia 20 de novembro, em alusão ao líder negro Zumbi dos Palmares, que em pleno regime de escravidão no Brasil, de 1645 a 1745, desafiou o poder da época ao resistir por mais de 100 anos, na construção de um espaço verdadeiramente democrático onde conviveram negros, índios e brancos foragidos, totalizando mais de 20 mil pessoas, no Quilombo dos Palmares, em Alagoas.

Contemporaneidade

Agora, na contemporaneidade, neste ano de 2019, quando comemoramos os 40 anos do Movimento Negro de Piracicaba, que de maneira estruturada teve início na Unimep e depois se espalhou por várias instâncias da sociedade local, bem como foi primordial para o surgimento de vários grupos e manifestações na própria academia, podemos observar que no surgimento das Políticas de Ações Afirmativas, implantadas no Brasil já no século XXI, após o ano 2000, a Unimep volta a ser referência para sinalização de marco histórico no registro da “Piracicaba Negra”.

O jornalisa Martim encerrou sua participação ressaltando as tratativas iniciais que a Câmara procura manter com a atual reitoria da Unimep no sentido de firmar parceria na adoção de medidas integradas, tendo em vista, sempre, o interesse social da coletividade, onde a trajetória de luta e avanço da comunidade negra poderá ser registrada.

"Assim, todos vocês estão convidados a dar a sua contribuição neste processo de busca e reconhecimento de luta de um povo", concluiu.

Debates

No expediente reservado aos debates, os alunos e até professores consideraram o momento delicado que afeta as instiutições brasileiras, a exemplo da Unimep, com relação à remuneração de professores, pagamentos de funcionários  e outras implicações que afetam o dia a dia da comunidade escolar, onde paira o medo e incertezas sobre o futuro da educação brasileira. 

Também foi referendado nas discussões o papel da Unimep perante a defesa de causas sociais e do acolhimento de movimento libertários que foram referênciais no Brasil e no mundo, a exemplo da Teoria da Libertação, Comunidades Eclesiais de Base, Movimento de Favelados, Mães da Praça de Maio, Libertação da Palestina, Encontros da Une, libertação da Nicaraguá e outras referências históricas.

Além de considerações sobre o legado da participação feminina na política local, a exemplo das ex-vereadoras, Ditinha Penezzi, Adeli Bachi e Madalena, que passaram por processos de enfrentamentos para que não fossem silenciadas em suas vozes perante as injustiças sociais. 

Legislativo André Bandeira Ary Pedroso Jr Carlos Gomes da Silva Carlos Cavalcante Dirceu Alves José Longatto Laércio Trevisan Jr Paulo Henrique Ronaldo Moschini Chico Almeida Gilmar Rotta Matheus Erler Paulo Campos Pedro Kawai Paulo Serra Rerlison Rezende Isac Souza Jonson Oliveira Adriana Nunes Lair Braga Nancy Thame Marcos Abdala Osvaldo Schiavolin Valdir Marques Wagner Oliveira Antonio Padovan Zezinho Pereira Chico Roncato

Texto:  Martim Vieira - MTB 21.939
Supervisão de Texto e Fotografia: Valéria Rodrigues - MTB 23.343

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