EM PIRACICABA (SP) 12 DE DEZEMBRO DE 2019

Câmara reconhece legado educacional de Janete Vieira Luiz Gonçalves

Educadora atuou por sete anos na direção da Escola Municipal Profº Oracy da Silva, Santa Teresinha, em práticas educativas com foco na valorização dos laços familiares




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Câmara reconhece legado educacional de Janete Vieira Luiz Gonçalves

Crédito: Fabrice Desmonts - MTB 22.946


A Câmara de Vereadores de Piracicaba, conforme iniciativa de José Aparecido Longatto (PSDB), na moção de aplausos 235/2019, aprovada na 75ª reunião ordinária, desta quinta-feira (12) presta homenagens, com foco à professora Janete Vieira Luiz Gonçalves pelos sete anos de direção frente à Escola Municipal Professor Oracy da Silva, Jardim Taigua, Santa Terezinha, em práticas por uma educação antirracista, pela diversidade das crianças brasileiras e suas infâncias, em interações que valorizam os laços familiares, além do despertar de consciência sobre o reconhecimento de suas territorialidades.

A entrega da comenda acontecerá em data oportuna, ainda em 2019 ou no início do ano de 2020, ocasião em que a educadora assumirá a direção de novo estabelecimento educacional, no bairro Santa Rosa. 

No teor da moção, o vereador Longatto considera a trajetória educacional de Janete Luiz, que se pauta na defesa de um projeto educacional antirracista, em práticas que consideram a diversidade das crianças brasileiras e suas infâncias.

A educadora reconhece que o projeto trouxe possibilidades de pensar em uma educação que acolhe todas as crianças.

A consideração é que a educação formal brasileira ao longo de sua história negligenciou a influência dos africanos, indígenas e seus descendentes na formação do povo brasileiro.

No mesmo sentido, foi dado ênfase em práticas de escolarização das crianças pequenas, numa ânsia pelo ler e escrever deixando de lado as marcas no joelho, em consequência de uma brincadeira bem vivida entre pares, os choros e os risos, fruto das relações harmoniosas ou não, entre as crianças, e que fazem parte do cotidiano da creche e da pré-escola.

Ao longo desse tempo, a busca do projeto foi por uma tentativa de construir um currículo que contemplasse as discussões em torno da diversidade brasileira e a valorização das diferentes linguagens das crianças, expressas nas relações entre crianças-crianças e criança adultos/as, entendendo que todas as experiências e sentimentos cotidianos devem ser valorizados e acolhidos, como o choro, o toque, dormir quando tiver vontade, calçar os sapatos, cantar, pular, escorregar, brincar, conversar, dramatizar, escrever, pintar, modelar, trocar fraldas, vestir a roupa, dentre tantas outras práticas intencionais que fazem parte do currículo e que muitas vezes não é valorizada.

Nesse sentido, sempre houve a compreensão de que desenhar não é mais importante que a ação de lavar as mãos ou se alimentar, assim como trocar fraldas tem a mesma importância que contar uma história.

Janete Gonçalves também destaca no projeto pedagógico, a importância da comunidade escolar e a sociedade local, a reconhecer o legado de cidadãos que são referenciais na denominação de prédios públicos, a exemplo da creche municipal, chamada de Oracy da Silva, de uma pessoa que marcou posição histórica e social, em fonte de inspiração e luta por uma educação anti-racista e menos machista.

A consideração é que a cultura produzida nas escolas sofre influência de uma sociedade predominantemente masculina e racista, que generaliza e naturaliza comportamentos de homens e mulheres, negros e brancos.

Cria-se no interior das escolas expectativas de ações, falas e pensamentos específicos para os meninos e meninas, sendo diferentes para brancos e negros. A indagação que fica é até que ponto possibilitamos às crianças o contato com o estudo da diversidade brasileira, que contemple as diferentes etnias?

Essa foi umas das principais perguntas para o coletivo de professoras. No aprendizado a que cada criança vivencia na escola, constata-se que em muitas situações, a identidade da criança que foge dos padrões estéticos exigidos na sociedade vai sendo construída numa condição de subalternidade e assim se faz necessário pensar em ações cotidianas em que todas as crianças pudessem se identificar dentro do espaço da creche.

Desde uma simples narrativa, na preocupação em apresentar para as crianças, histórias que contemplem personagens negros, brancos, indígenas, e de diferentes etnias na tentativa de não evidenciar apenas personagens brancos, magros e de olhos azuis pois as crianças brasileiras são diversas, até na identificação de situações excludentes entre as crianças, elas são separadas, na atribuição de apelidos, pela cor da pele, porte físico ou tipo de cabelo.

Na defesa do projeto, por uma educação antirracista, não há como desconsiderar que no processo de constituição da identidade, fatores como gênero, cor da pele, porte físico entre outros interferem no processo de socialização da criança e consequentemente isto vai compor sua identidade enquanto criança branca ou negra, pobre ou rica, menino ou menina.

A consideração é que no desenvolvimento do projeto, em todos estes anos, a Escola Municipal ficou conhecida como o Quintal Oracy da Silva, como carinhosamente foi acolhido por todos, em reverência ao patrono, o que tem sido um local que acolhe, que provoca, que respeita, que valoriza as ações das crianças, num espaço para brincar e se relacionar e que acima de tudo respeita as crianças na garantia de seus direitos.

O espaço é de conivência das crianças, e que abraça as suas famílias. A expectativa é que esse legado também se perpetue nas próximas gerações, sensibilizando pessoas que passarão a ocupar esse espaço.

O sentido da palavra africana “Ubuntu” é considerado no transcorrer do projeto, por uma educação antirracista, colocado em prática na Escola Oracy da Silva.

Na língua portuguesa existe a palavra saudade, cuja tradução para outras línguas se torna muito complexa. Nos países africanos existe a palavra Ubuntu, que possui diversos significados humanísticos.

Ubuntu é uma palavra que apresenta significados humanísticos como a solidariedade, a cooperação, o respeito, o acolhimento, a generosidade, entre muitas outras ações que realizamos em sintonia com a nossa alma (com o nosso ser interno), buscando o nosso bem-estar e o de todos à nossa volta.

É uma palavra paroxítona, que se pronuncia uBUNtu (de forma figurada seria algo assim: ubúntu).

Ubuntu é uma antiga palavra africana e tem origem na língua Zulu (pertencente ao grupo linguístico bantu) e significa que "uma pessoa é uma pessoa através (por meio) de outras pessoas".

Nelson Mandela, sobre a definição desta palavra diz que Ubuntu não significa que uma pessoa não se preocupe com o seu progresso pessoal. A questão é: o meu progresso pessoal está ao serviço do progresso da minha comunidade? Isso é o mais importante na vida. E se uma pessoa conseguir viver assim, terá atingido algo muito importante e admirável.

No teor da moção, o vereador Longatto também considera que Janete Vieira Luiz Gonçalves (diretora da E.M. Professor Oracy da Sila, de janeiro de 2013 a janeiro de 2020 é filha de Carlota Vieira Luiz Gonçalves e Antonio Luiz Gonçalves, casada com Rodrigo Luiz Gonçalves, mineira por natureza, pedagoga por opção, apreciadora de bons livros e amante da natureza.

Formada em Magistério pela Escola Estadual Sud Menuncci, Pedagogia pela Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, têm aperfeiçoamento e especialização em Educação Infantil pela Universidade Federal de São Carlos e outros inúmeros cursos de extensão, todos voltados para a educação das crianças pequenas.

Cópias da moção também seguem em reconhecimento aos profissionais que aceitaram o desafio de levar à comunidade a proposta que tem como foco a preservação dos valores piracicabanos, onde também são contemplados os docentes: Elisangela Andia Anholeto, Cláudia Marins Freire, Patrícia Zambon, Alexsandra Sila Campos, Lúcia Pereira Freitas, Kátia Cristina dos Santos, Andréia Albano da Sila Godoy, Fabiane Muniz Lourenço, Talita Estevam de Barros, Ana Paula Sbragia Lara, Vivian Regina da Silva Feitosa, Bruna de Oliveira Gonçalves.

Além de Maria Angélica Batista Venâncio Camargo, Marcilene Ninfa de Toledo Rubia Brunelli, Jaqueline Moreira Ferraz de Lima, Andrea Aparecida Agostini Pereira, Caroline Neves Ferreira, Marisa de Mattos, Neili Raquel Barbosa Mello, Natália Brandão Venturini, Marli Aparecida Zorzetto, Thais Fernanda Alves de Oliveira Picoli, Tatiana Maria Zanella, Beatriz Brasso Torrezan Medeiros, Janaina Berto e Supervisoras Diva da Guia Freitas e Aline Ambrosano, que também tiveram destaque em outras iniciativas desta unidade escolar, a exemplo da idealização e lançamento do Projeto Piracicaba, Lugar Onde o Peixe Para, que têm o objetivo de levar conhecimento às crianças sobre a história da cidade de Piracicaba.

Legislativo José Longatto

Texto:  Martim Vieira - MTB 21.939
Supervisão de Texto e Fotografia: Valéria Rodrigues - MTB 23.343

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