EM PIRACICABA (SP) 22 DE MAIO DE 2020

Especialista ensina como identificar e combater o 'Aedes aegypti'

Biólogo Marcio Ermida, do Centro de Controle de Zoonoses de Piracicaba, participou de live promovida pela Escola do Legislativo nesta sexta-feira.




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Live foi promovida pela Escola do Legislativo, dirigida pela vereadora Nancy Thame




Com linguagem didática, o biólogo Marcio Ermida, que atua como orientador pedagógico no CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) de Piracicaba, apresentou a internautas as principais características do "Aedes aegypti", mosquito transmissor da dengue (e também de doenças como zika e chikungunya). Ele falou sobre o tema em live no Instagram promovida pela Escola do Legislativo, da Câmara de Vereadores de Piracicaba, na tarde desta sexta-feira (22).

Mediada pela vereadora Nancy Thame (PV), diretora da Escola, a participação de Marcio trouxe esclarecimentos sobre como identificar o mosquito e combater sua proliferação. O biólogo destacou que a dengue é tida pela Organização Mundial da Saúde como doença grave, cuja variação hemorrágica pode levar a óbito. Em Piracicaba, após os 4.180 casos registrados no ano passado, 2020 soma, até agora, 774, concentrados, principalmente, na região leste da cidade, seguida pela oeste.

O orientador pedagógico explicou que o papel do CCZ é atuar na prevenção, com foco nos vetores, das doenças transmitidas de animais para seres humanos. O órgão conta com agentes que, sob as diretrizes do Plano Municipal de Combate ao Aedes, visitam residências e empresas, respondem aos pedidos de atendimento via telefone 156 e promovem atividades e palestras de orientação.

Baseado em conclusões científicas, Marcio listou aspectos que ajudam a identificar o "Aedes aegypti": trata-se de um inseto que vive estritamente em ambiente urbano, alimenta-se e depende de sangue humano e tem hábito diurno (à noite, em geral, esconde-se debaixo de mesas e dentro de armários, por exemplo). Mede cerca de 9 milímetros, é listrado em preto e branco, não tem zumbido audível e seu voo alcança aproximadamente 200 metros na horizontal e de 1,5 metro a 2 metros na vertical.

Esse alcance restrito, aliás, faz com que o "Aedes aegypti" tenha característica "domiciliar", segundo Marcio. "95% da infestação está em residências. Ele fica onde nasce, não voa mais do que 5 metros de onde nasceu", afirmou.

O mosquito vive em média 30 dias. "Ele cruza entre 24h e 48h após nascer, só cruza aquela vez. A fêmea sai para pôr os ovos, de 100 a 150 a cada 10 dias. Ela vai procurar recipientes para colocá-los, não põe o ovo na água. Ela pode pôr num recipiente seco, sem água nenhuma, na borda, pois o ovo sobrevive no recipiente seco", contou Marcio, que falou da relação que há entre água parada e a proliferação do mosquito.

"Uma vez que se acumulou água no recipiente, para nascer o mosquito leva em torno de 7 a 8 dias: em dois dias, sai a larva de dentro do ovo; depois, em quatro dias a larva se transforma em pupa; e, em mais dois dias, a pupa vira o mosquito."

O biólogo foi enfático em relacionar o combate ao "Aedes aegypti" à eliminação dos criadouros, tarefa que, para ser cumprida dentro de casa, requer apenas 15 minutos por semana, ressaltou. "É fácil combater o mosquito. Tem que tirar da população a ideia de fumacê, veneno. O veneno só vai matar o adulto, não o ovo nem a pupa. Não adianta usar, pois causa a resistência do mosquito. O uso indiscriminado acaba selecionando os mosquitos mais resistentes."

"Prevenção é não deixar o 'Aedes' existir, eliminando os recipientes onde a fêmea põe os ovos para o mosquito nascer. Ela não põe 100 ovos no mesmo recipiente; ela espalha nos recipientes que existem na casa, num intervalo de horas. Sugando o sangue, ela matura os ovos dentro dela e já está apta para pôr, só precisa achar os recipientes para colocar", continuou.

Marcio destacou que somente a fêmea é quem pica, e ela se alimenta do sangue de 5 a 20 pessoas por dia: uma vez que suga um indivíduo que está com dengue, "depois de 5, 6 dias ela começa a transmitir o vírus para outras pessoas". "Não passa no mesmo dia, a não ser que seja na mesma hora. Fora isso, só transmite depois que o vírus multiplicar-se dentro dela", explicou.

O biólogo alertou que os sintomas da dengue (febre alta, dor de cabeça, dores no corpo, manchas vermelhas, diarreia, vômito, cansaço) são comuns a outras doenças e que "dificilmente" uma pessoa vai ter todos eles, mas nos casos em que os três primeiros surgem deve-se procurar atendimento "imediatamente". "A anamnese é importantíssima para o médico", salientou.

DICAS - Marcio apontou que muitas pessoas ainda associam o mosquito a sujeira e a plantas em vasos, apenas, quando outros meios são igualmente facilitadores da proliferação, como calhas, ralos, caixas d'água, piscinas e recipientes.

"Recomendamos colocar na terra qualquer tipo de planta, não manter vaso dentro de casa e não manter o pratinho embaixo; se tiver, coloque de cabeça para baixo ou justaposto ou preencha o espaço vazio do prato com espuma, em vez de areia, porque é comum ficar uma camada de água sobre a areia. Não precisa deixar água no pratinho para a planta ir tirando aos poucos, ja que ela tira da terra", aconselhou.

Outras dicas incluem usar ralo abre-e-fecha, guardar ensacados em local encoberto pneus e garrafas de cabeça para baixo e lavar o bebedouro de animais pelo menos uma vez por semana. "A fêmea adora superfície escura, por isso os vilões são pneus e caixas d'água. Ela coloca o ovo, que é clarinho e do tamanho de um pontinho feito com lápis no papel, e, em menos de uma hora, ele fica escurecido, ficando protegido se tiver algum predador."

Marcio condenou a utilização de armadilhas que, com a premissa de combater a proliferação, acabam gerando efeito contrário. "Virou moda a armadilha de mosquito, que é feita com garrafa pet cortada com água parada. Acham que colocando a armadilha se combate, mas estão atraindo a fêmea. Se ela estiver contaminada, com o vírus que pegou de alguém doente, e for para sua casa, ela vai intensificar a picada, porque antes de colocar os ovos ela vai se alimentar muito. Quem coloca armadilha não elimina o criadouro. É antipedagógico", sentenciou.

O orientador pedagógico do Centro de Controle de Zoonoses defendeu que a população use o período da quarentena em prevenção à Covid-19, já "que precisa ficar dentro de casa, para verificar se tem criadouro". Ele disse esperar que as iniciativas de combate à dengue provoquem "mudança de hábitos". "Precisa haver um envolvimento", defendeu. 

Nancy Thame falou do desafio de levar a conscientização por meio de ações educativas. "Os projetos para isso são os mais difíceis para atingirmos. É um trabalho incessante, que não tem uma resposta a curtíssimo prazo, faz parte da educação mesmo. São as ações do coletivo que vão afetar cada um de nós."

Escola do Legislativo Nancy Thame

Texto:  Ricardo Vasques - MTB 49.918
Supervisão de Texto e Fotografia: Valéria Rodrigues - MTB 23.343

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