EM PIRACICABA (SP) 21 DE MAIO DE 2020

Palestra mostra que diálogo é o caminho para romper estruturas

Os problemas estruturais que causam as desigualdades entre homens e mulheres no mercado de trabalho foram debatidos em palestra promovida pela Escola do Legislativo




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Palestra foi transmitida pela internet




A ideia de que os homens são melhores líderes é uma das causas da desigualdade de gênero no mundo corporativo, e o fato das mulheres negras sofrerem ainda mais com as desigualdades no mercado de trabalho se deve à herança escravista do país. Esses foram os assuntos centrais da palestra ‘Divisão sexual do trabalho, precisamos falar sobre isso’, realizada na tarde desta quinta-feira (21), online, via aplicativo Zoom.

A palestra, promovida pela Escola do Legislativo da Câmara de Vereadores de Piracicaba, teve a participação da advogada Rebeca Henrique do Nascimento da Silva, e da psicóloga especialista em gestão de RH, Lívia Bruzasco de Oliveira. A vereadora Nancy Thame (PV), diretora da Escola do Legislativo, ressaltou a importância do tema ‘Diálogos para Equidade” como assunto a ser debatido pela Escola.

Na palestra, a advogada Rebeca do Nascimento citou a pandemia do novo coronavírus para falar sobre a responsabilidade social da mulher no cuidado com as pessoas. Ela destacou que a maioria dos profissionais de enfermagem que estão na linha de frente no combate à Covid-19 são do sexo feminino. Segundo ela, 70% dos profissionais de enfermagem “são mulheres, mulheres negras, que estão na profissão de técnico e auxiliar, com salários baixíssimos”, e que essas mulheres são as pessoas que estão mais expostas a contrair o coronavírus, por estarem na linha de frente do cuidado.

Rebeca Nascimento fez um recorte racial sobre a mulher negra no mercado de trabalho e citou trechos das obras da escritora negra Lélia Gonzales e da filósofa Marilena Chauí para dar um contexto sobre as desigualdades que ocorrem no Brasil. De acordo com a advogada, 17% das mulheres que estão no mercado de trabalho são empregas domésticas e 70% delas são negras. Para ela, a profissão só se mantém através da exploração de uma classe social por outra e por causa de uma herança escravista “que não devia orgulhar ninguém”. Ela ainda afirmou que com a distribuição de renda a profissão de empregada doméstica, se não desaparecer, não vai ser mais tão comum entre os brasileiros.

A psicóloga Lívia Bruzasco de Oliveira completou a palestra sobre divisão sexual no trabalho com reflexões sobre a desigualdades de gênero no mundo corporativo. Segundo ela, desde a infância as pessoas são ensinadas que existem papéis designados para homens e mulheres e isso se reflete no mercado de trabalho.

Como exemplo, a psicóloga falou sobre a divisão social do trabalho nas organizações em que características como “objetivos, focados, agressivo nos negócios, trabalham melhor sob pressão e líderes”, são atrelados ao perfil masculino e características como “sensíveis, empáticas, atenta aos detalhes, lideradas e o estigma de não saber separar o pessoal do profissional” são atreladas às mulheres. Ela explicou que no caso das mulheres, a única verdade é que todas são criadas para desempenhar determinados papéis, tanto que quando alguma mulher é “promovida ou se dá bem no trabalho”, dizem que “tal mulher parece um homem”.

Lívia Bruzasco ainda relatou que muitas mulheres sofrem da síndrome da impostora, em que elas acabam duvidando da própria capacidade pois vivem num ambiente em que teoricamente o homem é o líder e tem a força e a mulher é muito sensível e não sabe liderar. Segundo ela, alguns efeitos dessa síndrome são a menor presença de mulheres em posição de liderança, o reforço do estigma da mulher "ultra sensível submissa" e que precisa ser liderada, e a competição entre mulheres.

A mediadora do curso, Luana Bruzasco de Oliveira, destacou que a reflexão sobre a desigualdade de gêneros num primeiro momento é tratada de uma forma combativa, mas depois traz diálogos e a ação na luta pela desconstrução. 

Escola do Legislativo Nancy Thame

Texto:  Daniela Teixeira - MTB 61.891
Supervisão de Texto e Fotografia: Valéria Rodrigues - MTB 23.343

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