Câmara e Rede de Proteção promovem atividades no Mês da Mulher
Semana da Mulher começa com debate sobre cidades e direitos humanos
Evento na Câmara trouxe professoras para falar da relação da mulher com esses dois temas.
A relação da mulher com as políticas de planejamento urbano e a defesa dos direitos humanos foi abordada, na tarde desta quinta-feira (7), no evento que marcou o início da programação da Semana da Mulher na Câmara, promovida pelas vereadoras Nancy Thame (PSDB) e Adriana Cristina Sgrigneiro Nunes, a Coronel Adriana (PPS).
A roda de conversa "Políticas públicas para mulheres: desafios e perspectivas" contou com as participações da professora mestre Lígia Nerina Rocha Duarte, que abordou "A mulher e a cidade: desafios da infraestrutura urbana", e da professora doutora Célia Regina Rossi, que falou de "Relações de gênero, sexualidade e educação no Brasil: avanços, retrocessos e desafios".
Lígia destacou o conceito de "função social" da cidade e da propriedade urbana, reforçado no Estatuto da Cidade, de 2001, e chamou a atenção sobre como a omissão do Estado no desenvolvimento territorial urbano prejudica a qualidade de vida da mulher e acentua os problemas originados da desigualdade de gênero no país.
"Devemos reconhecer a igualdade de gênero como componente da função social da cidade, sem a qual esse princípio perde efetividade. Conforme diminui a presença do Estado nos bairros e nas vilas mais pobres, aumenta a carga social assumida pelas mulheres nesses lugares, tornando evidente que elas são mais afetadas pelas desigualdades socioterritoriais", refletiu a professora.
"As cidades são desiguais, mas não na cidade inteira: são mais desiguais nas partes mais pobres e mais desiguais para mulheres do que para homens", completou a especialista em planejamento urbano, que defendeu que o trabalho técnico na área deveria passar a considerar também "uma cartografia das desigualdades de gênero".
Esse olhar mais global, continuou Lígia, contribuiria, por exemplo, para orientar o adensamento de regiões da cidade e a localização de equipamentos sociais, tais como escolas e creches, onde eles são escassos. Ela lembrou que uma das funções de um Plano Diretor é justamente promover a gestão democrática do território.
"Pensar as etapas de um plano diretor sob a perspectiva de gênero envolve repensar a organização das atividades. A representatividade dos cidadãos, o desenho dos espaços para a manifestação pública, a escala territorial dos debates: o olhar da mulher é fundamental em todas as etapas do processo. Conhecer a trajetória das mulheres na cidade vai revelar a situação que elas vivenciam cotidianamente", disse Lígia.
A especialista defendeu a busca pela paridade de gênero em órgãos de discussão do planejamento urbano, como nas conferências e nos conselhos gestores de fundos municipal, estadual e nacional, no conselho municipal da cidade e em suas respectivas câmaras técnicas e no colegiado que analisa o Orçamento Participativo.
DIREITOS HUMANOS - Pensamento semelhante foi exposto por Célia, para quem o ambiente escolar é o mais adequado para trabalhar os direitos humanos na sociedade. "Os direitos humanos incluem o direito à vida, à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, ao trabalho e à educação. Todos merecem esse direito sem discriminação", definiu.
Para Célia, "no Brasil, a cultura pratiarcal frequentemente machista ainda é predominante". "Há muito preconceito, discriminação e exclusão social de grupos ou indivíduos em função do exercício de sua sexualidade. Parece haver hoje maior respeito às diferentes expressões da sexualidade, mas ainda há muitas resistências, modelos estereotipados e valores impostos e veiculados por mídia, escolas e religiões."
A professora listou um conjunto de ações éticas para trabalhar o tema com estudantes. "A escola é o espaço ideal para falar de direitos humanos, sexualidade, gênero, respeito, violência, sexo, preconceito, drogas, tecnologias digitais. A escola tem que pautar suas provocações e problematizações dentro de um compromisso ético, subsidiada por referencial teórico e reuniões de estudo."
As ações que visam contribuir para a construção de valores éticos e de defesa dos direitos humanos incluem respeitar as diferenças, seja em sala de aula, no recreio ou entre os professores; ouvir e respeitar as opiniões dos alunos; e não expor erros ou deficiências deles na frente de toda a classe, preferindo conversar com o estudante em particular.
Nancy Thame destacou que a terceira vez em que promove a Semana da Mulher na Câmara, ao lado de Coronel Adriana, consolida o objetivo de realizar "um trabalho de maneira conjunta, com a participação de representantes de diversas instituições". "Sempre tentamos convergir: as vozes diferentes, os coletivos, gente dos três poderes."
A vereadora enfatizou a necessidade de as mulheres ganharem mais espaço nas discussões e esferas de poder e decisão. "Temos de aproveitar o máximo para fortalecer a todas as mulheres. A sororidade é importante, de nos entendermos como mulheres nessa luta coletiva para o fortalecimento na sociedade, para termos um mundo mais igualitário e justo."
Coronel Adriana defendeu maior participação das mulheres. "Estamos aqui hoje com a coragem de enfrentar todo esse sistema, que não é fácil. Independentemente do viés, a mulher tem que estar presente, porque é metade da população. Todas as mulheres têm que estar à frente dessas demandas", declarou.
Cerca de 50 pessoas assistiram às palestras, na sala multimídia da Escola do Legislativo localizada no térreo do prédio anexo da Câmara. Ao final das apresentações, o público pôde fazer perguntas a Lígia e Célia, que receberam certificados das mãos de Nancy Thame e Coronel Adriana.
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