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Ata da reunião ordinária realizada no dia seguinte à conquista do campeonato relata congratulações de vereadores à seleção brasileira de futebol
Salve Copa do Mundo - Brasil Campeão Mundial 1958, Coleção Werner Haberkorn / Acervo do Museu Paulista da USP
O ano era 1958. O então presidente da República, Juscelino Kubitschek, empossado há dois anos e amparado em seu ambicioso plano de metas conhecido como “Cinquenta anos em cinco”, proporcionava crescimento econômico ao país – saído há pouco mais de uma década da Segunda Guerra Mundial –, e promovia a construção da nova capital federal: Brasília. A indústria automobilística crescia; a industrialização incentivava o aumento da urbanização; a televisão passava a fazer parte dos lares dos brasileiros; a primeira edição da Bienal Internacional de Arte de São Paulo, em 1951, inaugurava um dos principais circuitos artísticos mundiais.
As transformações no âmbito social e cultural permitiam o nascimento da Bossa Nova, gênero brasileiro que, com forte influência do jazz e do samba, iria revolucionar a música brasileira e mundial – incorporando a própria ideia de modernização no ritmo e nas letras.
Nessa época, conhecida como “Anos Dourados”, os ventos favoráveis que sopravam na economia e na cultura resolveram soprar também no esporte: a seleção brasileira de futebol conquistava a sua primeira Copa do Mundo, disputada entre 10 e 29 de junho de 1958, na Suécia.
A derrota da seleção brasileira frente aos uruguaios em 1950, no Maracanã, diante de 200 mil pessoas, construiu o sentimento de inferioridade que fazia o nosso futebol ter “pudor de acreditar em si mesmo”, segundo o escritor Nelson Rodrigues, que cunhou o termo “complexo de vira-lata” a partir do trauma sofrido pela nação na final da Copa do Mundo daquele ano. Oito anos depois, os jogadores embarcavam rumo à Suécia, deixando para trás o vira-latismo futebolístico.
Aquela seria a Copa em que o Brasil apresentaria ao mundo o garoto de 17 anos que se tornaria o maior jogador de todos os tempos e o "anjo das pernas tortas", cujos dribles divertiam quem assistia e atormentavam os adversários: Pelé e Garrincha. A campanha do Brasil contou com cinco vitórias – contra os austríacos, os soviéticos, os galeses e os franceses – e um empate – contra os ingleses –, chegando à final, realizada em 29 de junho de 1958 no estádio Råsunda, disputada com o time dono da casa.
Sob a supervisão do técnico Vicente Feola, jogavam a final, além de Pelé e Garrincha, Gilmar, Djalma Santos, Orlando, Bellini, Nilton Santos, Zito, Didi, Vavá e Zagallo. Na escalação da seleção, dois nomes piracicabanos estavam presentes: Nílton De Sordi e José João Altafini, o Mazzola. De Sordi jogou até a semifinal, ocupando o banco de reservas e dando, assim, lugar a Djalma Santos na final; já Mazzola participou dos dois primeiros jogos da campanha e as quartas de final.
O Brasil, que entrou em campo vestindo uniforme azul, começou a partida decisiva ficando para trás, com um gol de Liedholm, aos quatro minutos. Ainda no primeiro tempo, conseguiu virar: Vavá goleou duas vezes, aos nove e aos 32 minutos.
Pelé avançou o placar para 3 a 1 com direito a chapéu no zagueiro sueco, aos 10 minutos do segundo tempo. Aos 23 minutos, Zagallo contribuiu para aumentar a vantagem com o quarto gol brasileiro. Aos 35, Simonsson fez o segundo gol sueco. O novo Rei do Futebol fechou a partida com o quinto gol aos 45 minutos do segundo tempo, e a seleção brasileira finalmente conquistava o sonhado título mundial.
Em Piracicaba, os vereadores celebraram o título no dia seguinte à partida narrada pelo rádio. No dia 30 de junho de 1958, às 13h30, a Câmara Municipal realizava sua 21ª reunião ordinária. Na ocasião, os parlamentares abordaram assuntos cotidianos: um voto de louvor ao professor Joaquim do Marco pelos trabalhos prestados à cidade, providências para a reforma e conservação do prédio onde residiu Prudente de Moraes, a perfuração artesiana de um poço no bairro Godinhos, bem como, evidentemente, as devidas congratulações à seleção brasileira pela conquista.
Na sessão, foi apresentado o requerimento 133, de autoria do vereador Orlando Carnio e outros, que destinava à equipe nacional “voto de júbilo pela vitória esportiva do Brasil, sagrando-se campeão mundial de futebol, na Suécia”. O vereador Antonio Stolf, no momento destinado ao pronunciamento dos parlamentares, “associou-se entusiasticamente” à propositura.
Também em pronunciamento, o vereador Ítalo Ripoli aplaudiu a conquista. Em trecho da ata, o político, que no ano seguinte assumiria a presidência do Esporte Clube XV de Novembro e se consagraria como uma figura marcante para o time, destaca o futebol como um esporte “civilizado”:
“O 2º orador foi o vereador Ripoli, que enalteceu o feito da seleção nacional, sagrando-se campeã mundial de futebol, em data de ontem, na Suécia, depois de brilhante campanha, entendendo de sua parte que o fato muito representava para a nação, pois o futebol era um dos esportes praticado e desenvolvido em países de alto teor cultural, não se encontrando em países menos civilizados” (em transcrição livre)
No discurso, o parlamentar afirmava, ainda, que a vitória da seleção era ainda mais meritória uma vez que “o nome do Brasil, através da imprensa falada e escrita, havia de correr todas as nações do mundo”. Ripoli defendia, ainda, que caso a política seguisse o exemplo do futebol, “colocando nos postos de responsabilidade homens capazes de conduzir e conquistar vitórias”, o país andaria muito bem.
A digitalização da ata citada nesta matéria, identificada e sob a guarda do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara Municipal de Piracicaba, pode ser conferida no anexo abaixo.
ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" se pauta na publicação de parte do acervo do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo, criada pelo setor de Documentação, em parceria com o Departamento de Comunicação Social, com publicações no site da Câmara, às sextas-feiras, como forma de tornar acessível ao público as informações do acervo da Casa de Leis.
Texto escrito em coautoria com Bruno Didoné de Oliveira.
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