EM PIRACICABA (SP) 06 DE DEZEMBRO DE 2021

Evento discute papel masculino no combate à violência contra mulheres

Evento aconteceu nesta segunda-feira, Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres




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Encontro integrou as atividades dos "16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres", da Câmara.

Crédito: Guilherme Leite - MTB 21.401


O gabinete da vereadora Silvia Morales (PV), do mandato coletivo ‘A Cidade É Sua’, em ação conjunta com a vereadora Rai de Almeida (PT) e também com a unidade do Sesc Piracicaba, realizaram, nesta segunda-feira (6), uma roda de conversa masculina sobre o tema “O papel do homem no enfrentamento da violência contra a mulher”.

O evento foi direcionado a todos os servidores e demais colaboradores homens da Casa, em alusão ao Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres, celebrado em pelo menos 55 países, sempre no dia 6 de dezembro. No Brasil, a data foi oficializada por meio da Lei nº 11.489, em 20 de junho de 2007.

Além disso, a roda de conversa também integrou as atividades dos "16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres", da Câmara, evento instituído em Piracicaba pelo decreto legislativo 14/2017, de autoria da então vereadora Nancy Thame.

Para mediar a conversa, esteve Johão Scarpa, membro do mandato coletivo e, como facilitador, o psicólogo André Luiz D’Onório Caes. Iuri Botão foi o representante do Sesc. Também participou o vereador Gustavo Pompeo (Avante).

A proposta do encontro foi trazer uma reflexão do que é “ser homem” dentro da sociedade, tendo como pano de fundo os dados alarmantes de feminicídio e violências de gênero cometidos contra o sexo feminino.

De acordo com o psicólogo, a violência não é um fenômeno especifico para os homens. “Na sociedade temos violências que consideramos aceitas, em que tendemos a relativizar e essa mesma sociedade ensina que a violência faz parte do caráter masculino”, disse.

André Luiz D’Onório propôs uma intervenção onde os homens presentes escrevessem um relato pessoal de algum momento em que presenciaram algum tipo de violência de gênero, para que depois pudessem compartilhar com os demais presentes na roda.

Pompeo disse que conheceu a violência contra mulher logo ao nascer. De acordo com ele, os relatos que recebeu de sua mãe e das demais mulheres da família, contam que o médico responsável por trazê-lo ao mundo desacreditou da sua capacidade de sobreviver à cesariana, se recusando a realizar o parto. Hoje a prática é reconhecida como violência obstétrica. “Um outro médico que viu a situação, se sensibilizou e conversou com a equipe e só aí fizeram o parto”.

Para o vereador, discurtir o tema é muito importante. “A minha família é muito grande e assisti muito dessa violência. Lembro que na casa da minha avó acontecia muito de aparecer o pessoal do Conselho da Família, mas eles sempre diziam que as coisas iriam mudar, o que não era verdade”, relatou.

“Eu reflito muito sobre o tema, sobre a natureza humana. Me pergunto como a violência pode ser praticada em nome do amor, em nome do carinho, em nome da proteção. Eu também reflito sobre qual direito eu tenho que fazer mal a alguém, se alguém tem o direito de fazer mal a mim”, refletiu o parlamentar.

O participante Alexandre Bragion destacou que a figura do agressor nem sempre é de alguém com perfil violento e que muitas vezes essa figura tende a ser carinhosa. “Eu queria trazer o outro lado e dizer que nenhuma desgraça acontece por motivo único e, se tratando de humanidade, acho que isso também cabe. No tribunal do júri onde participei, de cada 10 crimes, nove eram contra a mulher. Muitas vezes esses crimes não tinham um perfil violentos, de homens violentos e só vai para o tribunal do júri, crimes contra a vida”. 

Para o também participante do encontro, Robson Job, trata-se de um problema cultural que precisa ser enfrentando. “Eu sou nascido e criado na Zona Leste de São Paulo em conjunto habitacional chamado COHAB (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo) da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo), onde as pessoas conquistavam sua casa própria por parcelas de 25 reais. E qual era cultura daquele ambiente? Tráfico, droga, prostituição e assassinato pelo simples fato de você não dividir mesma ideia que o outro. E como a gente muda a cultura? Promovendo encontros como esse. É aqui que a gente então promove a mudança de uma cultura e isso leva tudo, leva determinação, vontade dos agentes daquela sociedade”, enfatizou.

De acordo com o psicólogo André Luiz D’Onório, refletir sobre violência deve ser exercício diário. “A violência muitas vezes é um ritual de passagem para a masculinidade, como se o ato de apanhar desse ao homem o título de homem. Isso que a gente fez hoje é algo que precisa ser feito todo dia, é algo que só tem sentido quando a gente leva pro dia a dia”, pontuou.

Mulher Rai de Almeida Silvia Maria Morales

Texto:  Pedro Paulo Martins
Supervisão:  Rodrigo Alves - MTB 42.583
Revisão:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337

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