EM PIRACICABA (SP) 02 DE SETEMBRO DE 2022

Nos anos 1950, proposituras de Ditinha Penezzi tinham cunho social

Primeira mulher a ser eleita vereadora, Ditinha lutou por projetos que beneficiavam a população mais pobre e que se pautavam em preceitos da sociologia e psicologia




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Ditinha Penezzi ocupou a cadeira de vereadora na Câmara Municipal de Piracicaba por quatro mandatos, de 1956 a 1972

Crédito: Arquivo Histórico da Câmara


A partir desta quarta-feira (31), a Tribuna da Câmara Municipal de Piracicaba passou a ter o nome de Maria Benedita Penezzi, a Ditinha Penezzi. A parlamentar marcou a história da Casa de Leis por ter sido a primeira mulher a ser eleita vereadora, e a segunda a ocupar o cargo. Ditinha era uma mulher negra – o que tornou sua eleição ainda mais significativa. 

Nascida em Piracicaba em 1917, Ditinha candidatou-se ao cargo nas eleições de 1955, pelo populista Partido Social Progressista (PSP), extinto em 1965. O jornalista Cecílio Elias Netto conta que a parlamentar foi polêmica em sua atuação, portando-se de maneira valente, ainda que doce, frente ao machismo que certamente enfrentou à época. 

As proposituras de autoria da vereadora mostram que ela, de origem humilde e casada com o empresário Vicente Penezzi, preocupava-se com projetos que beneficiassem os mais pobres, pautando-se em preceitos da sociologia e psicologia modernas.

No requerimento 287/1956, por exemplo, Ditinha Penezzi solicitou que o prefeito e o delegado estudassem a construção de uma sala anexa à cadeia pública municipal, às expensas do município, para acolher os menores de idade que cometessem delitos. À época, todos os presos eram mantidos juntos no mesmo compartimento, independentemente da idade. No documento, a vereadora afirma que a prática era, “social e psicologicamente, não recomendável”. 

Ditinha também se preocupava com aqueles que não tinham moradia ou como custear um local para pernoite: ela sugeriu, através do requerimento 240/1956, o restabelecimento do albergue público noturno. No texto da propositura, ela defende que “são numerosos os pobres que, ao transitar por esta cidade, nem sempre encontram um abrigo para repouso noturno". "Testemunhamos o fato de uma família composta de mais de meia dúzia de pessoas ter-se abrigado sob um palanque armado em praça pública”, relatava.

Outra propositura relevante no mandato de Ditinha foi a indicação 167/1956, na qual recomendava, à prefeitura, a confecção de uniformes para os varredores municipais, já que eles, segundo o texto, recebiam baixos salários e tinham de arcar com as despesas para o sustento de seus familiares, e, pelo alto custo de vida, não poderiam "trajar-se convenientemente".

A vereadora foi, também, autora do projeto de lei 76/1956, que destinou a quantia de 10.000 cruzeiros para a comemoração de Natal dos piracicabanos internados no Asilo Colônia Pirapitingui, um leprosário localizado em Itu que confinava cerca de 4 mil pessoas com hanseníase.

Já a ata da reunião camarária de 22 de outubro de 1956, transcrita pelo setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara, traz, pelas palavras do vereador Manoel Rodrigues Lourenço, um acontecimento que demonstra os valores da vereadora: alguns rapazes entraram na piscina da fonte luminosa, provavelmente da Praça José Bonifácio – segundo o parlamentar, “sem o menor respeito ao local” – e, por isso, foram direcionados à cadeia. Conforme ele relata, Penezzi interveio e retirou-lhes dali, pelos seus “grandes dotes de coração”. Na ata, não consta nenhuma resposta da parlamentar quanto à colocação do colega de legislatura. Na mesma reunião, foi aprovado o projeto de lei 73B/1956, de sua autoria, que destinava pensão a uma viúva de funcionário público municipal.

Ditinha foi reeleita e cumpriu quatro mandatos. No terceiro, em 1966, foi afastada do exercício de vereadora por julgamento do Tribunal de Justiça. Posteriormente, retornou ao cargo, no qual permaneceu até 1972.

Depois dos 50 anos, Penezzi foi estudar Direito e formou-se pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Administrativas de Itapetininga, em 1975. Como advogada, atuou especialmente a favor de pessoas sem recursos financeiros. Ela faleceu em junho de 1985 e foi velada na Câmara.

A casa de propriedade de sua família, na esquina da rua Tiradentes com a rua Regente Feijó, abrigou o Centro Cultural “Ditinha Penezzi” no início dos anos 2000, com data imprecisa. O espaço era tocado por seu neto, Dalton Penezzi. O artista e produtor contou, animado, que o centro cultural deve voltar a funcionar, agora em outro local: na rua do Rosário, em frente ao Hotel Nacional, onde Ditinha viveu grande parte de sua vida. A previsão de inauguração do espaço é para outubro deste ano, reverberando o legado de figura tão marcante para a história da cidade.

Todos os documentos citados neste texto podem ser consultados nos arquivos anexados abaixo.

ACHADOS DO ARQUIVO - a série "Achados do Arquivo" se pauta na publicação de parte do acervo do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligados ao Departamento Administrativo, criada pelo setor de Documentação, em parceria com o Departamento de Comunicação Social, com publicações no site da Câmara, às sextas-feiras, como forma de tornar acessível ao público as informações do acervo da Casa de Leis.

 

Achados do Arquivo Documentação

Texto:  Laura Fedrizzi Salere
Supervisão:  Rodrigo Alves - MTB 42.583


Anexos:
a33. (1956) benedita penezzi - ata.pdf

digitalização.pdf

indicacao 167_1956 - processo 385.pdf

projeto de lei 73b_1956 - processo 529.pdf

projeto de lei 76_1956 - processo 548.pdf

requerimento 240_1956 - processo 420.pdf

requerimento 287_1956 - processo 485.pdf


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