EM PIRACICABA (SP) 02 DE SETEMBRO DE 2022

Prevenção ao suicídio passa por ouvir o outro com atenção e sem julgar

Câmara promoveu palestra gratuita na tarde desta sexta-feira.




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Crédito: Fabrice Desmonts - MTB 22.946




Escutar com atenção, respeito e sem julgamentos a pessoa que apresenta comportamento suicida é uma das principais atitudes que alguém que convive junto pode tomar para reduzir os riscos de que o pior aconteça. O apoio da família e de amigos e o estímulo para buscar ajuda profissional também são importantes nessas situações.

Os conselhos foram dados pela voluntária Eliane Soares, do CVV (Centro de Valorização da Vida), na palestra "Da dor ao amor: (auto)cuidados na prevenção do suicídio", promovida pela Câmara Municipal de Piracicaba na tarde desta sexta-feira (2). O evento, gratuito, ocorreu por conta do Dia Municipal da Prevenção ao Suicídio, no próximo dia 10, mesma data em que anualmente o planeta se debruça sobre o tema.

Dentro do mês dedicado à campanha "Setembro Amarelo", de prevenção ao suicídio, o evento organizado pela vereadora Silvia Morales, do mandato coletivo A Cidade É Sua, trouxe ao salão nobre da Câmara pessoas que, na vida particular ou profissional, lidam ou tiveram proximidade com casos de quem cogitou tirar a própria vida.

"Ninguém acorda num dia de sol e fala: 'Hoje vou tirar a própria vida'. Trata-se de um processo de dor extrema, em que a pessoa está como numa panela de pressão, com problemas usuais, com pressão interna —se culpando e deixando de se amar— e com pressões externas —como perda do emprego, uma separação ou perdas familiares, em que ela entra num processo de luto", comentou Eliane.

"Se não faço algo para aliviar essa pressão, algo que dê prazer e me desconecte dos problemas, como praticar uma atividade física, desenvolver um trabalho artístico, desabafar, conversar... Se não procuro ajuda, aí essa panela explode", ilustrou.

A voluntária do CVV relacionou os sentimentos que costumam estar presentes na pessoa que pensa em suicídio: solidão, sensação de abandono, tristeza profunda, descuido com a aparência, perda de interesse por atividades de que gostava, desejo de ir para um lugar melhor, procura de paz e expressão clara ou velada de querer morrer.

Pessoas próximas que identificam esses traços naquele que apresenta tendência suicida podem ajudar escutando-o com atenção, respeito e sem interrupção, mostrando que leva a sério o que ouve sem julgar ou criticar, valorizando o sentimento do outro sem apontar caminhos e recomendando ajuda familiar e profissional.

"É necessário ter compreensão, empatia e respeito. Toda pessoa, quando tem esse apoio emocional no ambiente em que está inserida, é capaz de superar muitas coisas. Por isso, deve buscar apoio familiar e falar abertamente sobre o que está sentindo para que saia desse processo de dor e busque a cura, já que sozinho é muito difícil de sair de uma situação assim", pontuou Eliane.

A voluntária, que foi homenageada ao final do evento por sua atuação no CVV de Piracicaba, lembrou que o centro criado em 1962 em São Paulo e que hoje atende todo o país pelo telefone 188 é um dos serviços gratuitos aos quais se pode recorrer, com garantia de sigilo e sem necessidade de a pessoa se identificar.

O professor doutor Sérgio de Oliveira Santos, que falou na sequência de Eliane, enalteceu o papel do CVV como "apoio emocional" às pessoas. O psicólogo clínico e membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio classificou o suicídio como o ponto culminante de três fatores: as pressões internas ou externas —como culpa, ressentimento, mágoa—, a dor psíquica e o estreitamento das possibilidades de vida.

"Suicídio é a conclusão trágica de uma história. Nascemos com um horizonte de possibilidades enorme, mas, se eu não me perdoo, ele vai se fechando. E acabamos enxergando o suicídio como único desfecho possível dessa história", disse Sérgio, que, no mês passado, pela Escola do Legislativo, já havia abordado a importância do cuidado.

Silvia Morales mencionou a participação de Sérgio na reunião ordinária desta quinta-feira (1º), quando o professor abordou a prevenção ao suicídio. "Cada vez mais percebemos o quanto é importante falar dessa temática. Ontem, com a fala dos vereadores, a gente vê que isso tem mesmo que ser encampado por nós. A gente joga a semente, e é importante propor e cobrar ações do Poder Executivo", defendeu a vereadora.

"Em nosso município, na área de saúde mental a rede de atendimento é muito forte, porém sofre com o déficit de profissionais e a equipe sobrecarregada. O trabalho preventivo está sendo prejudicado", acrescentou Silvia, para em seguida citar estatísticas da Organização Mundial da Saúde. "Suicídio é uma triste realidade que gera grandes prejuízos à sociedade. Em 2019, foram mais de 700 mil casos no mundo e, no Brasil, são mais de 14 mil por ano."

O presidente em exercício da Câmara, Acácio Godoy, também comentou a fala de Sérgio na reunião ordinária, dizendo que ela fez aumentar sua percepção sobre a importância da realização de campanhas como o "Setembro Amarelo". "Toda vez que se separa uma data para uma campanha, somos questionados, mas elas são importantes. Ficou claro que todos da área trabalham durante todo o ano com o tema e que uma data específica é importante porque chama a atenção do restante da sociedade e consegue atingir muitas pessoas que não são impactadas pelo tema."

O vereador Gustavo Pompeo compartilhou como o contexto familiar o fez dedicar seu mandato à defesa de políticas públicas para saúde mental e combate ao uso de álcool e outras drogas. O parlamentar também apontou a necessidade de superar um atraso "de pelo menos 20 anos" em Piracicaba no atendimento em saúde mental, que, segundo ele, "não conseguiu acompanhar a sociedade" diante do crescimento dos casos que necessitam de apoio. "O Estado não consegue acompanhar. A rede precisa fortalecer muito, muito mesmo", comentou.

Saúde Silvia Maria Morales

Texto:  Ricardo Vasques - MTB 49.918
Supervisão:  Rodrigo Alves - MTB 42.583
Imagens de TV:  TV Câmara

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