EM PIRACICABA (SP) 10 DE FEVEREIRO DE 2021

Programa destaca trajetória de Prudente, “o consolidador da República”

Parlamento Aberto Entrevista revisitou vida política do ex-vereador de Piracicaba e primeiro presidente civil do Brasil.




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Parlamento Aberto Entrevista foi ao ar nesta quarta-feira (10)






A trajetória política de Prudente de Moraes, ex-vereador de Piracicaba que se tornaria, em 1894, o primeiro presidente civil do Brasil, foi revisitada em uma nova edição do programa Parlamento Aberto Entrevista, coprodução dos departamentos de Comunicação e TV Legislativa da Câmara, com apresentação dos jornalistas Erich Vallim Vicente e Fábio Alvarez. 

Transmitido ao vivo na tarde desta quarta-feira (10), o programa também integra atividades que marcam a inauguração do memorial em homenagem ao político, localizada no hall de entrada do Salão Nobre “Helly de Campos Melges”. 

“O seu maior legado foi ter baseado o governo em uma Constituição”, aponta o historiador Maurício Beraldo, responsável pela gestão do acervo do Museu Prudente de Moraes. “Ele foi conhecido, no final do século XIX, como o ‘pacificador’ da República, mas eu também avalio que ele foi o consolidador deste sistema político, que, naquele momento, ainda era frágil”, aponta. 

Beraldo lembra que, recém-saído de uma monarquia, o Brasil tinha uma República que havia sido, até então, governada por dois militares, Marechal Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Com Prudente, o País passa a estabelecer governos de representantes da sociedade civil. 

“Ele conseguiu manter o sistema republicano, que poderia ter sido tomado por militares ou mesmo retornado à monarquia”, acrescenta, colocando Prudente como um dos protagonistas na defesa de uma República civil e com eleições diretas. “Ele tem esse grande mérito: ter sido o consolidador da República.” 

O governo de Prudente foi bastante turbulento. “Tinha a ala dos militares, que além de estarem descontentes pelo fato do poder ter sido passado a um civil, queriam um governo com mais centralidade. Já a ala dos cafeicultores, queriam mais autonomia aos estados”, avalia Beraldo. 

No meio deste conflito, o advogado formado no Largo São Francisco soube resolver os conflitos a partir do diálogo. “Na maioria das vezes, ele conseguiu vitórias pela diplomacia”, aponta, sem deixar de pontuar o momento mais controverso de seu governo que foi a Guerra de Canudos. 

A característica conciliatória de Prudente, na visão de Beraldo, tem origem na atuação dele enquanto vereador em Piracicaba. “Quando ele entrou na vida política, o Brasil ainda era monarquia, então, aqui ele tinha contato com diferentes perspectivas políticas, como o Barão de Rezende, que era um monarquista conservador. Neste embate, ele sempre quis pacificar”, aponta. 

Integrante da equipe do Memorial Prudente de Moraes, Laura Ribeiro relata que, a partir dos documentos da vida do político, há evidente característica democrática. “O Brasil, na época, era muito católico, mas Prudente defendia a permissão das pessoas seguirem a sua fé, já que tinha ligação muito próxima com os missionários da Igreja Metodista, incluindo Martha Watts”, disse. 

A mesma característica se dá no âmbito da abolição da escravatura ou em outros temas, “em que, qualquer posição que ele iria tomar, era baseada nos ideais republicanos”, adverte. “Tanto que, quando ele percebeu que o PRP (Partido Republicano Paulista) não estava nesta ótica, ele se tornou dissidente”, avalia. 

GUERRA DE CANUDOS – O conflito no sertão baiano é um capítulo à parte na história de Prudente de Moraes. Enquanto no Rio de Janeiro, a capital do País, a luta era para pacificar os grupos políticos que disputavam o poder, no Nordeste brasileiro, Antonio Conselheiro desafiava o sistema político recém-instaurado. O massacre de cerca de 20 mil sertanejos demonstrou até onde do limite da força o Estado se utilizaria para se preservar, mesmo ao custo de tantas vidas. 

“Essa parte é bastante controverso, a gente tem (no Museu) uma sala dedicada à Guerra de Canudos. Eu sempre trabalho com o contexto histórico. Olhando hoje, 2021, século XXI, logicamente, foi um massacre, afinal foram oito mil homens do Exército contra 20 mil sertanejos pobres”, diz Beraldo. No entanto, o historiador prefere contextualizar para entender a conjuntura de quase 130 anos atrás para compreender o que levou à decisão de dizimar uma cidade inteira. 

Beraldo avalia que, apesar de macular a imagem de Prudente, o episódio da Guerra de Canudos também proporcionou que ele se mantivesse no poder e, mais tarde, depois de sofrer um atentado, acabasse tendo sido transformado em um mártir em defesa da República. “Ele conseguiu completar o seu mandato, alcançou os seus objetivos enquanto presidente”, diz o historiador. 

“Ele ficou conhecido como um homem que poderia se sacrificar pelos ideais republicanos, um dos soldados se jogou na frente dele e acabou se tornando um mártir, um símbolo, da grande República que se instaurava”, lembra Laura. 

Embora não se tenha o conhecimento de um documento em que demonstre “ordem expressa” do presidente na última missão contra Canudos, Beraldo lembra que a pressão em torno de encerrar o movimento de Conselheiro era grande, e não vinha apenas do governo, mas também do Exército, que até então tinha sofrido duas grandes derrotas, com a morte de dois generais, e da Igreja. 

“O que temos para mostrar a maneira como Prudente via o conflito é a frase relatada em Os Sertões, de Euclides da Cunha, onde ele teria dito que ‘Canudos daria por terminado quando fosse capturado Antonio Conselheiro’”, lembra, e completa: “Mas não diz se era capturado vivo ou morto.” 

FONTES PRIMÁRIAS – O trabalho de resgate e preservação da memória de Prudente suscitou o debate em torno da pesquisa. Em um momento em que há revisionismo de fatos do Brasil, como a Ditadura Civil-Militar ou ainda sobre a vida de Zumbi dos Palmares, os pesquisadores se atentam à necessidade de buscar as fontes primárias para estabelecer recortes históricos.

“Existem muitas pessoas de diversas áreas que falam sobre episódios históricos como se fossem ‘verdade’”, aponta Beraldo. Ele relata que, na formação do pesquisador, há a disciplina de historiografia, onde aprendem quais são os documentos e como devem ser tratados em um trabalho desta natureza. 

“Como a gente é historiador, a gente trabalha muito com a fonte primária, além das bibliografias. Não é apenas pegar um texto e interpretar e achar que foi daquele jeito, porque também pode ser um assunto recorrente na época, e sempre existem exceções e diferenças, então prefiro fontes primárias”, diz. 

Diretor do Departamento de Documentação e Transparência da Câmara, Bruno Didoné de Oliveira lembrou do papel do órgão na preservação de documentos não só do Legislativo, mas da cidade de forma geral. “Hoje, nós aqui estamos fazendo uma pesquisa sobre Luiz de Queiroz, a pedido da Esalq”, informa.

Os documentos, alguns deles são atas de reuniões no Legislativo, trazem fatos locais e também a repercussão de episódios nacionais e até internacionais. “Nós temos, por exemplo, um relatório enviado pelo então prefeito Fernando Febeliano da Costa sobre como foi a atuação da cidade no período da epidemia da chamada ‘gripe espanhola’. O original está em nosso departamento”, relatou. 

Em relação à atuação de Prudente de Moraes, Laura Ribeiro lembra que o então vereador apresentou uma proposta de criação de um asilo voltado para pacientes de hanseníase. “Na época, a questão sanitária estava muito em alta no País”, relata. Ela também recorda da proposta do então presidente da Câmara em mudar o nome de Vila Nova da Constituição para Piracicaba.

“Oficialmente, o nome da cidade era ‘Constituição’, mas popularmente as pessoas chamavam pelo nome indígena, então foi de Prudente de Moraes que partiu a iniciativa de mudar o nome para Piracicaba, em 1877”, relata.

Cultura Parlamento Aberto

Texto:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337
Supervisão:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337
Revisão:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337
Imagens de TV:  TV Câmara

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