EM PIRACICABA (SP) 03 DE DEZEMBRO DE 2021

"Violência política" é tema de encontro de lideranças femininas

Mulheres representantes de partidos reuniram-se na Câmara Municipal de Piracicaba, na tarde desta sexta-feira (3), para discutir o espaço feminino na política




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Reunião discutiu violência política contra as mulheres

Crédito: Guilherme Leite - MTB 21.401


A busca por mais espaços e a luta pelo fim da violência política contra as mulheres foi a tônica do encontro que reuniu na Câmara Municipal de Piracicaba, na tarde desta sexta-feira (3), na sala de reuniões do 2º andar do prédio Anexo, mulheres líderes de partidos políticos de matizes e orientações diversas.

A atividade integra o calendário "16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres", instituída no Legislativo municipal piracicabano desde 2017, por meio do decreto legislativo 14/2017, e promovido neste ano com base no requerimento 33/2021, e que prevê a realização de palestras, reuniões, simpósios, encontros e afins voltados à "promoção e valorização da igualdade da mulher nos diferentes espaços sociais, econômicos, culturais e políticos". 

O encontro desta tarde foi aberto pelas vereadoras Rai de Almeida (PT), Sílvia Morales (PV), do mandato coletivo "A Cidade é Sua" e Ana Pavão (PL), que recepcionaram e agradeceram a participação das representantes partidárias piracicabanas Érica Gorga (presidente Patriota), Kerlyn Oliveira (Secretaria da Mulher - PT), Carolina Angeleli (presidente PDT), Kátia Mesquita (representante PSDB Mulher), Rosângela Camolese (presidente PSDB Mulher), Danuta Rodrigues (vice-presidente PSOL), Lara Pedrozo (presidente PSOL), Mayara Araújo (representante PCB), Denize Junqueira (representante Solidariedade), Maria Aparecida Ferraz (representante Solidariedade), Micaela Bariotto (representante PCdoB), Eliete Nunes (representante Cidadania) e Nancy Thame (secretária municipal de Agricultura e Abastecimento e presidente do PV).

"Estamos em diferentes partidos, com posições políticas e ideológicas bastante distintas, mas com certeza nós temos uma pauta em comum, que é a pauta das mulheres, que é a luta pelo fim da violação dos direitos das mulheres. Nós buscamos o fim da violência contra as mulheres. Enquanto uma mulher estiver sofrendo violência, nós precisamos estar nesta luta", disse a vereadora Rai de Almeida. 

De forma semelhante, Sílvia Morales salientou a importância do encontro, e lembrou que a violência institucional e política contra as mulheres, muitas vezes, não é explícita, mas sim sutil. Ela também destacou a forte presença feminina em mandatos coletivos: "em relação aos mandatos coletivos, a maioria deles, 80%, são compostos por mulheres, com pautas feministas e ligadas às lutas das mulheres".

Ana Pavão, também na abertura do evento, frisou que o encontro agrega mulheres dispostas a discutir e atuar politicamente, trazendo ganhos para a cidade: "É muito importante para a política de nossa cidade, que tenham essas mulheres nesta mesa, mulheres dispostas a lutar pela nossa cidade", ressaltou a parlamentar. 

Mediação - A conversa entre as lideranças e representantes políticas piracicabana contou com a mediação de Nancy Thame e Danuta Rodrigues, que trouxeram ao debate alguns elementos iniciais para a apreciação das demais participantes. Nancy ressaltou a necessidade de que a luta pelo fim da violência contra a mulher, institucionalmente, precisa ser constante, e não uma política "vagalume, que acende a apaga".  

A secretária municipal também lembrou que o ainda atual predomínio masculino nos ambientes decisórios, em especial na política, é fruto de uma "construção cultural e histórica" que buscou, ao longo dos anos, restringir a atuação da mulher apenas ao ambiente privado, doméstico: "há uma distorção histórica a ser corrigida", disse. 

"A violência está em todas as esferas, eu não tenho dúvidas disso, mas o espaço político é um dos mais violentos, pois é um espaço de poder e de decisão". Segundo Nancy, o acesso ao ambiente político e partidário ainda não é uma realidade para a maior parte das mulheres, mas sim algo feito muitas vezes apenas para "cumprir tabela": "não adianta, portanto, em época de eleição sair correndo atrás de mulher pelas ruas [para se candidatar]. O quanto nós participamos do processo, o quanto nós somos convidadas para participar por dentro de um partido, termos voz, para que a gente possa trabalhar?", questionou.

Para tanto, Nancy defendeu a adoção de cotas para as mulheres, não apenas para as candidaturas partidárias mas, principalmente, na divisão efetiva dos cargos eletivos. "Nós vemos que as cotas são necessárias, sim. Essa noção de que nós vamos [ser eleitas] pelo mérito, que mérito é esse se a largada é diferente? Que mérito há se você carrega um monte de coisas e não tem espaço nas mesas de decisão? Mérito é quando você sai do mesmo ponto de partida, e não saímos o mesmo ponto de partida... A cota vem corrigir uma distorção da sociedade em relação a nós, vem acelerar esse processo". 

Danuta Rodrigues, que sucedeu Nancy Thame na mediação da conversa, disse que, assim como o racismo, o machismo é também estrutural em nossa sociedade e, portanto, ressoa igualmente dentro da esfera política. "Por que, ainda em 2021, temos que ter reuniões como essas? Por que é notícia que a Câmara teve quatro vereadoras eleitas? Deveria ser rotina... Por que isso não acontece? Por que essa excepcionalidade? Isso acontece porque o nosso passado é patriarcal, nosso passado é escravocrata e nós temos essas heranças históricas. Isso se reflete até hoje", destacou.

De acordo com Danuta, a violência contra a mulher possui, ainda, nuances e gradações, ou seja, ela atinge mulheres diferentes de maneiras diferentes: "há certas escalas de opressão. Quem sofre violência? Toda mulher sofre, mas há uma escala que ela é maior em certos corpos. Uma mulher negra tem um grau maior, uma mulher periférica tem um grau maior. Isso não significa que as mulheres brancas não sofram também", ponderou. 

Para ilustrar a violência contra as mulheres na política, Danuta Rodrigues lembrou da vereadora da cidade do Rio de Janeiro, Marielle Franco, assassinada em 2018: "eu fico imaginando o que levou a este assassinato. Independentemente do motivo, o que ela descobriu que a levou a ser morta? Se fosse um homem, ele seria morto também? O que incomodou mais, o que ela poderia deflagrar ou o que ela poderia combater, o que ela representava como um todo?", questionou.  

"Eu vejo vários debates acalorados, de diversos espectros políticos, mas há um certo cavalheirismo entre os homens e uma voracidade maior em cima das mulheres. Isso é muito sintomático da estruturação patriarcal de nossa sociedade", concluiu.

Debates - Na sequência, cada uma das participantes puderam falar por até três minutos. Ela retomaram as discussões relativas às cotas eleitorais, falaram sobre suas experiências na luta por mais espaços e voz dentro dos partidos, sobre a violência institucional e a busca por mais acesso a cargos eletivos e às esferas decisórias. 

Encaminhamentos - Ao término do evento, as representantes políticas deliberaram pela realização de encontros periódicos, trimestrais, e de forma descentralizada, ampliando o acesso à política para ainda mais mulheres.

A próxima reunião, que deve ser organizada pela Procuradoria Especial da Mulher da Câmara, está prevista para ser realizada na primeira semana de março de 2022, próxima ao dia 8, quando é então comemorado o Dia Internacional das Mulheres.

Mulher Procuradoria Especial da Mulher Ana Pavão Rai de Almeida Silvia Maria Morales

Texto:  Fabio de Lima Alvarez - MTB 88.212
Supervisão:  Rodrigo Alves - MTB 42.583

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