Trabalhadores de Piracicaba aderiram à greve geral de 1917 e 1919
Em 1964, deposição de Jango foi tema de debate em reuniões ordinárias
Vereadores comentaram sobre a tomada do poder pelos militares no País; matéria integra a série ‘Achados do Arquivo – Especial’
Presidente João Goulart, o Jango, foi deposto em 31 de Março de 1964
Se em 1961, a posição da maioria dos vereadores era o respeito à Constituição e a posse do presidente João Goulart, o Jango, pouco menos de três anos mais tarde, já em 1964, as atas da Câmara Municipal de Piracicaba revelam o crescente clima de “anticomunismo” que tomava no País e como era direcionado ao mandatário da Nação – mesmo que suas reformas não fossem “revolucionárias” tampouco ele liderasse qualquer insurgência armada contra o Estado Democrático de Direito.
Poucos dias antes da movimentação das tropas do general Olímpio Mourão Filho em 31 de março de 1964 – ato que é demarcado como início da tomada do poder pelos militares –, na reunião ordinária do dia 23 o vereador Elias Jorge defendeu “a necessidade de ser encetada uma repulsa contra atuação do presidente da República”. Na mesma linha, o vereador Mário Stolf lembrou da “infiltração de ideias exóticas e antinacionalistas em todos os setores da administração”.
Com a crescente a instabilidade sobre o governo de Jango, na reunião ordinária de 30 de março, portanto, apenas um dia antes da movimentação de Mourão Filho, o vereador Assib Elias Maique faz uma explanação sobre o que entendia como “significado do que seja nacionalismo verdadeiro” e propõe que a Câmara apresente apoio às reformas de bases – nome dado ao conjunto das propostas de Jango – “desde que dentro do espírito democrático e cristão do povo brasileiro”.
Também foi discutido o apoio à Marcha da Família com Deus e pela Liberdade – movimento conservador que mobilizou parte da sociedade brasileiro em defesa da tomada do poder pelos militares –, com vereadores como José Alcarde Corrêa conclamando autoridades e povo a se unirem ao movimento.
Já depois do movimento que depôs o presidente João Goulart, em 6 de abril de 1964, na primeira reunião ordinária após ter sido declarada vaga a Presidência da República, diversos vereadores expressaram apoio à solução dada pelos militares e repudiando o comunismo internacional. Foram apresentados alguns requerimentos em solidariedade às autoridades policiais e às Forças Armadas.
O vereador Lázaro Pinto Sampaio foi o primeiro orador daquela reunião. Após reforçar o convite para que seus pares comparecessem à Marcha da Família pela Liberdade, com Deus, ele classifica que os “últimos acontecimentos políticos e tiveram a finalidade de deposição do presidente da República, e a manutenção do regime democrático, (...) deu mostras do mais alto espírito patriótico”.
Outros parlamentares seguiram como oradores, conforme está registrado na ata da Câmara, preservada pelo Setor de Gestão de Documentação e Arquivo:
Na sequência, como 2º orador, o vereador Elias Jorge “criticou os oportunistas de todas as situações, especialmente quando em jogo os destinos da Pátria, não podendo dizer-se o mesmo desta Câmara, que, desde a primeira hora, esteve sempre alerta e, portanto, tem autoridade moral para se manifestar sobre os acontecimentos, apresentando, nesse sentido, proposições de aplauso às autoridades militares, civis e religiosas, que tomaram parte nos mesmos”
Em seguida, como 3º orador, falou o vereador Milton de Camargo, que “teceu comentários à situação nacional, definindo posições do partido UDN com assento nesta Casa, lembrando que o vereador Sebastião Rodrigues Pinto, por ocasião da posse do Sr. João Goulart, que os militares desejavam então impedir, como que conhecendo de antemão o ex-presidente, fora o único a pronunciar-se contra o ato, numa demonstração de que a UDN era um partido que sempre combateu a corrupção, o peleguismo e o estado de coisas implantado pelo referido presidente da República”.
Como 5º orador, o vereador Jaime Pereira justifica “voto de louvor às autoridades policiais da cidade pela manutenção da boa ordem e a calma indispensável no decorrer dos acontecimentos recentemente havidos”.
O 7º orador foi o vereador José Luiz Guidotti, que se pronunciou “fazendo referências aos acontecimentos ocorridos recentemente e que culminaram com a deposição do presidente João Goulart, hipotecando solidariedade às novas autoridades constituídas”.
O 8º orador, vereador José Alcarde Corrêa, “referiu-se também às ocorrências havidas no país, acentuando que Deus e os verdadeiros homens públicos haviam zelado para que o Brasil continuasse a viver no regime democrático, livrando-o de uma hecatombe geral”.
Na sequência, como 9º orador, usou da palavra o vereador Arthur Domingues da Motta, que “aplaudiu a vitória das forças democráticas, o respeito da Constituição e o expurgo das ideias extremistas, resultantes das últimas ocorrências nacionais”.
Em seguida, o 10º orador, vereador Mário Stolf, se manifestou “sobre a necessidade de serem mantidas, a qualquer custo, as nossas instituições democráticas, a Constituição e o regime, para o que convocava todos os cidadãos a se unirem em torno de um ideal de paz e prosperidade”.
Agradecimentos parecidos foram reforçados na reunião ordinária de 13 de abril de 1964, com destaque à fala do vereador José Alcarde Correa, que, na ocasião, agradeceu o governador do Estado, Adhemar de Barros, “pela contínua proteção que tem demonstrado para com a nossa Pátria”.
Mais tarde, a ata da sessão de 22 de abril de 1964 registra um manifesto redigido por uma Comissão Especial de Vereadores, expressando apoio às reformas de base dentro de um "espírito de justiça e cristianismo". Este posicionamento foi endossado por vereadores como Milton de Camargo e Elias Jorge.
Em meio a telegramas de agradecimento do governador de Minas Gerais, Guanabara e do General Mourão Filho, em 28 de abril de 1964, o vereador Elias Jorge apresentou um requerimento consignando voto de aplauso ao Centro Acadêmico Luiz de Queiroz por exibir filmes condenando o “comunismo ateu” – uma mostra de como o anticomunismo era presente nos debates da Casa.
WALDEMAR ROMANO – Um dos vereadores da Legislatura 1964-1969, o cirurgião-dentista aposentado Waldemar Romano é marcado por duas passagens durante as turbulentas reuniões ordinárias após a tomada do poder pelos militares. Aos 83 anos, ele foi entrevistado no programa Câmara Convida, exibido no último dia 5 pela TV Câmara e que pode ser visto no canal do Youtube TV Câmara Piracicaba.
Na reunião de 30 de março de 1964, a ata registra que, durante a discussão do requerimento 68, em que o vereador Assib Elias Maique propunha apoio ao ato da Diretoria do Calq (Centro Acadêmico Luiz de Queiroz) repudiando “calouro de agronomia que fazia propaganda subversiva no seito da classe”, Waldemar Romano atenta para “a delicadeza que o assunto requer”.
Ele sugere, portanto, que o vereador autor da propositura apurasse melhor os fatos, “sem deixar-se (guiar) apenas pelo noticiário dos jornais, a fim de manifestar-se com pleno conhecimento de causa”.
“Era um momento delicado e minha posição foi de acadêmico, mas era uma situação muito tumultuada, porque havia muitas greves em firmas que não tinham motivo, onde na maioria das vezes o motivo era político”, recorda Waldemar Romano, ao relembrar o fato durante a entrevista no Câmara Convida.
ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" reúne publicações de documentos do acervo do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo, criada pelo setor de Documentação, em parceria com o Departamento de Comunicação Social, com publicações no site da Câmara como forma de tornar acessível ao público as informações do acervo da Casa de Leis. (Pesquisa: Bruno Didoné de Oliveira, servidor do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara Municipal de Piracicaba)
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