"A culpa nunca é do estagiário." A frase, que contraria a expressão já consagrada de jogar sobre as costas de quem está iniciando a carreira a falha cometida num ambiente de trabalho, é do designer gráfico Saulo Macedo, 33. Com dez anos de profissão, ele supervisiona dois estudantes da mesma área no setor responsável por elaborar artes visuais para a comunicação interna e externa da Câmara de Vereadores de Piracicaba.

Antes de ingressar na Casa como servidor efetivo em 2019, após se classificar em primeiro lugar no concurso público realizado no mesmo ano, Saulo passou por dois estágios —e sabe o quanto a experiência é importante para ganhar confiança e testar no dia a dia conceitos até então vistos na teoria, durante as aulas da faculdade.

"No design, como em qualquer área, o mais importante é dar ao estagiário uma experiência profissional, mas protegida. Não é simplesmente 'jogá-lo aos leões'; é você ensiná-lo a fazer o trabalho e, ao mesmo tempo, estar sempre ao lado, olhando e dizendo como fazer melhor ou mais facilmente, passando uma dica que você só adquire com experiência", diz.

Saulo rebate o lugar-comum. "Odeio aquela frase, que virou piada, de que 'A culpa é do estagiário'. Nunca é! Na verdade, quem é tutor do estagiário tem que dar proteção a ele para que possa se desenvolver enquanto profissional", reflete o designer gráfico, que destaca a contribuição dos estudantes no setor que ele coordena. "Dentro de uma instituição grande, como é a Câmara, com vários departamentos e gabinetes, temos uma quantidade de demandas de design muito alta, e os estagiários ajudam a atendê-la."

Com vagas para estágio em jornalismo, operador de câmera/edição de vídeos, fotografia e design gráfico, o Departamento de Comunicação da Câmara recebe inscrições até esta quarta-feira (27) para o processo seletivo de estudantes que estejam matriculados a partir do 2º semestre em curso técnico ou superior de jornalismo, rádio e TV, fotografia, design gráfico, desenho industrial, artes visuais, cinema, marketing e publicidade e propaganda.

Os candidatos devem preencher o formulário disponível em camarapiracicaba.sp.gov.br/estagio/inscricao. No dia 28, a lista com os nomes dos inscritos e o cronograma das provas serão divulgados no site da Câmara. As avaliações teórica e prática ocorrerão entre 1º e 5 de fevereiro, enquanto no dia 8 sairá a relação dos candidatos convocados, que vão compor cadastro reserva para contratações futuras.

Da mesma área que Saulo, Felipe Stevanatto, 24, foi um dos talentos que passaram pelo Departamento de Comunicação da Câmara nos dois anos que antecederam sua formação em design gráfico, em 2019. Desde o término do estágio, trabalhou em uma agência de publicidade e como freelancer. Recentemente, produziu artes de cenários para uma animação nacional que estreará em breve.

"Dá para citar muitos aprendizados que tive na minha experiência na Câmara: destaco a qualidade do ambiente de trabalho e as pessoas preciosas que conheci e com quem, até hoje, tenho contato e amizade. Era uma rotina gostosa. Mesmo em períodos com a demanda de trabalho bem alta, era prazeroso", recorda.

Com passagem pelo departamento na mesma época que Stevanatto, Thales Charbel Medeiros, 26, foi estagiário em edição de vídeo. Desde 2019 no Instituto Pecege, ele aponta como os dois anos na Câmara serviram para amadurecer o olhar sobre os desafios que encontraria depois, já que não poderia continuar na Casa após o término do estágio, uma vez que os profissionais para as funções técnicas são contratados via concurso público.

"O que não aprendi durante toda a faculdade eu aprendi na prática com o estágio, que ajudou a me tornar o profissional que sou hoje. O que mais lembro são os ensinamentos que me passaram de como era o mercado de trabalho em si. Como a Câmara é um lugar em que eu não poderia ser contratado depois, eles me prepararam para a vida inteira", afirma o hoje animador e editor de vídeo do Instituto Pecege.

Na Câmara, por sinal, Thales encontrou oportunidades de criar na área em que mais gosta de atuar. "O estágio na Câmara me ajudou muito na parte do aprendizado em si, pois me deram espaço para aperfeiçoar minhas animações dentro dos vídeos. O que me passaram sobre câmera, como correção de cor e cortes, me auxiliou em edição e também contribuiu para eu chegar aonde estou hoje."

A troca de conhecimentos durante o período em que Thales trabalhou no Departamento de Comunicação é destacada pelo repórter cinematográfico Gustavo Annunciato, servidor da Câmara desde 2009. "Ele aprendeu muito no segmento de operação de câmera, iluminação e edição de vídeo, mas também agregou bastante para a equipe na parte de animação. Ou seja, ensinamos e aprendemos nesse processo."

"Acredito que o estágio na Câmara, além de promover oportunidade na área de estudo, também contribui para a evolução do trabalho final que realizamos", analisa Gustavo, para quem "ser tutor dos estagiários é uma experiência importante". "Procuro passar tanto a parte técnica como a experiência em cada trabalho realizado, e é gratificante acompanhar o crescimento profissional deles."

A opinião é compartilhada pelo repórter fotográfico Fabrice Desmonts, servidor da Câmara há 26 anos. "Ensinamos a questão profissional, a responsabilidade, a importância de perder o medo e enfrentar as situações do dia a dia, as técnicas de fotografia. Muitos passam por nós e se transformam em bons profissionais, que acabamos encontrando no dia a dia. É muito legal, pois o fotojornalismo ganha com isso também."

O encontro de diferentes gerações num ramo como a fotografia, que assistiu à rápida evolução do analógico para o digital, é outro componente importante do contato entre estudantes e profissionais durante o estágio, segundo Fabrice. "Eles fazem o curso e geralmente têm a noção da fotografia, e não do profissional, do fotojornalista, daquele cara que tem que ser o mais discreto possível, estar atento a tudo o que acontece e trazer o contexto da matéria através da imagem."

"Ensinamos, mas aprendemos também, porque eles vêm da faculdade, do dia a dia do digital, que, para nós, apareceu apenas no segundo momento, pois somos da escola da fotografia em preto e branco, de rebobinar o filme e revelar o negativo. Acaba sendo uma troca de informações, uma responsabilidade e um prazer ao mesmo tempo", afirma o repórter fotográfico.

Como o estagiário que entra na Câmara é supervisionado pelo servidor concursado de sua área, que o acompanha nas tarefas do dia a dia, a formação que Fabrice busca transmitir foca o profissionalismo. "Cobro muito do estagiário a responsabilidade de, se ele se dispõe a fazer uma coisa, pegar e fazer bem feito. Se não sabe o que é, pergunte humildemente, pesquise, entre nos arquivos anteriores."

Rodrigo Alves, jornalista do Departamento de Comunicação, observa que os estagiários que atuam na redação, com a produção de matérias e conteúdos para o site e as redes sociais da Câmara, recebem dos profissionais orientações para a prática do jornalismo com foco no interesse público. "Muitos estudantes de jornalismo desconhecem o funcionamento do ambiente legislativo, às vezes até possuem uma visão distorcida e contaminada da realidade. Nesse sentido, cabe aos tutores desses estagiários orientá-los a serem multifuncionais, priorizando o jornalismo de interesse público, em uma linguagem que alcance um público heterogêneo", comenta Rodrigo.

"A faculdade é um momento de aprendizado, mas é no estágio que ocorre a transição entre o que estudante vê na teoria para a atividade profissional, ou seja, a prática. No período em que permanecem na Câmara, eles podem se descobrir na área e, assim, evoluir e perceber o funcionamento do fazer jornalístico e suas pluralidades. E, para os profissionais, é dever disseminar esses conhecimentos", completa.

Recém-contratada como trainee em uma grande empresa, a jornalista Raquel Soares, 22, classifica o período de dois anos como estagiária do Departamento de Comunicação como "crucial para que tivesse certeza da profissão". "Tive uma rotina repleta de conhecimento, desafios e troca de ideias e aprendizados que elucidaram e complementaram na prática os conhecimentos técnicos adquiridos na universidade. Para mim, foi como um rito de passagem, quando percebi, finalmente, que estava pronta para o mercado de trabalho."

Para Raquel, o estágio possibilitou ter contato com as funções da profissão. "Agreguei experiência em várias áreas, o que, além de ter possibilitado um diálogo entre a teoria e a prática, enriqueceu minha bagagem profissional e pessoal. Durante o estágio, tive muita autonomia para propor pautas, gerir projetos, sugerir ideias e participar efetivamente dos trabalhos, o que acabou formando boa parte da minha identidade profissional. Além disso, acompanhar os trabalhos legislativos e entender como funciona uma Casa de Leis também foram de vital importância."

A jornalista destaca a autonomia que teve para organizar uma semana de entrevistas que refletiu sobre o feminismo, em lives promovidas pelo Parlamento Aberto no Instagram. "Ter tido a liberdade de conduzir a semana, com todo o apoio e suporte da direção do departamento, foi, sem sombra de dúvidas, uma das melhores experiências que adquiri no estágio, podendo dar visibilidade a essas causas."