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Redescobertos após 20 anos, documentos históricos são doados à Câmara
Material reúne processos judiciais com mais de 200 anos e fazia parte do acervo reunido por Jair Toledo Veiga, pesquisador que faleceu em 2003
Rosália, neta de Jair Toledo Veiga: "Preservar estes documentos é uma homenagem ao meu avô."
Crédito: Guilherme Leite - MTB 21.401Auxiliar de cartório desde os 12 anos de idade, Jair Toledo Veiga dedicou a maior parte dos seus 86 anos à arte do registro civil. “Meu avô nasceu para ser secretário”, define a advogada Rosália Toledo Veiga Ometto, neta do pesquisador que faleceu em 2003. “A imagem que tenho dele é datilografando em um máquina de escrever”, acrescenta, ao lembrar com carinho de quem a influenciou a gostar de colecionar.
“Sou neta dele de forma muito intensa, porque gosto de guardar de coisas, mas que são mais selecionadas, ele era mais amplo”, diz, ao justificar como Toledo Veiga acumulou, ao longo da vida, uma quantidade de documentos capaz de ocupar um cômodo inteiro em sua casa. “Quando fomos mexer nas coisas dele, ele tinha um escritório imenso que, quando ele morreu, só dava para entrar uma pessoa.”
Há cerca de 20 anos, a morte de Jair Veiga coincidiu com outro evento que acontecia na cidade, que era a implantação do Centro Cultural Martha Watts. Na ocasião, a maior parte do acervo – incluindo o primeiro registro de matrículas do que viria a ser o Colégio Piracicabano – foi doado ao espaço ligado à Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba). “O que tinha a ver com a Igreja Metodista, eles selecionaram. O que não era relativo a eles, acabaram devolvendo à família”, explica Rosália.
Somente em 2021, após o falecimento da avó Sarah Duarte Toledo, a família se deparou novamente com o que havia sobrado daquele acervo e, novamente, o dilema sobre o que fazer com o material que havia sido acumulado pelo avô. “No primeiro momento, já vi que eram processos judiciais, escrituras, algumas documentações, comecei a folhear documentos de 1822, muito bem conservados”, recorda.
Dentre eles, havia alguns que, numa primeira avaliação, poderiam interessar à Câmara. Então, entrou em contato com o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, sob a chefia de Giovanna Calabria. “Assim que mostrei a ela o que era da Câmara, eram cópias, então não interessavam”, conta. “Mas no meio disso foram identificados processos judiciais, ofícios e atas de juri, o que acabou interessando”, diz Rosália.
DOAÇÃO – Com a doação oficializada em janeiro deste ano, os documentos do acervo de Jair Toledo Veiga ainda estão sendo transcritos. Mas no texto de descrição dos materiais, anexo ao termo assinado entre Rosália e representantes da Câmara, já é possível ter um pouco da dimensão do quanto o material poderá revelar da atuação jurídica ao longo do Século 19 e, ainda, demonstrar comportamentos da época.
Já foram identificados documentos da Comarca de Piracicaba datados entre 1822 a 1914, incluindo auto de inventário, autos de devassa, autos de ação criminatória, libelo com selo imperial original, demarcação de sítio, atas de juri, entre outras partes de processo. “Os materiais a serem incorporados ao Acervo da Câmara são documentos textuais em estado de conservação relativamente bom, que permite leitura e interpretação de boa parte do conteúdo”, aponta a descrição dos materiais.
Giovanna Calabria lembra que, a partir da chegada do material, o trabalho longo começa. “A gente já fez uma avaliação prévia, mas agora é pegar um por um, entender direitinho o que tem lá dentro, transcrever, descrever, higienizar, restaurar, digitalizar e logo estará disponível ao público”, explica a chefe do Setor de Documentação.
Em parceria com o Departamento de Comunicação Social da Câmara, o Setor de Documentação realiza trabalho permanente de divulgação dos documentos que estão preservados no acervo histórico do Legislativo piracicabano. Ao mesmo tempo, mantém o perfil no Instagram @camara.doct onde divulga também algumas das descobertas do arquivo. Esse trabalho é o que levou a neta de Jair Toledo Veiga a ter confiança ao destinar o material guardado com tanto esmero por seu avô.
“Preservar estes documentos é fazer uma grande homenagem ao meu avô”, salienta Rosália. “Ele nunca fez isso pensando em nada, apenas em estudo, porque ele era uma pessoa discreta, nunca imaginou ter algum reconhecimento público, e ter essa memória preservada do meu avô é algo extraordinário”, conclui.
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