EM PIRACICABA (SP) 28 DE AGOSTO DE 2012

Piloto da Stock Car Jr. supera paraplegia com esporte

Foi por causa de um carro que Yves Carbinatti teve sua vida mudada. Ele estava no banco de trás de um automóvel guiado por seu amigo, na rodovia Fausto Santomauro, (...)




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Crédito: Davi Negri - MTB 20.499


Foi por causa de um carro que Yves Carbinatti se apaixonou pela velocidade.

Mas o garoto, então com 7 anos, teve o sonho de disputar corridas adiado pelo acidente que matou o ídolo Ayrton Senna, em 1994. A mãe, receosa, o aconselhou a seguir outras direções, que não fossem as apontadas pelo automobilismo.

–– Desde criança, sempre tive uma infância agitada.

Sem parada, o menino, que com apenas 3 anos já assustara a mãe em uma queda doméstica em plena Copa do Mundo de 1990, passou então a despejar sua energia na natação, praticada na piscina do câmpus da Unesp em sua cidade natal, Rio Claro.

Aos 13 anos, começou a lutar jiu-jítsu (chegou a conquistar o título paulista em sua categoria), vindo a ensinar a atividade a crianças carentes cinco anos depois, quando também iniciou os treinamentos no boxe, pensando em se tornar lutador de MMA (artes marciais mistas).

Foi por causa de um carro que Yves Carbinatti teve sua vida mudada.

Ele estava no banco de trás de um automóvel guiado por seu amigo, na rodovia Fausto Santomauro, que liga Piracicaba a Rio Claro, quando, aos 21 anos de idade, sofreu um acidente que atingiu sua coluna vertebral, deixando-o paraplégico.

–– Desse dia em diante, muita coisa mudou. Eu me vi numa cama de hospital sem poder treinar jiu-jítsu e boxe.

A colisão, em 20 de setembro de 2008, o obrigou a interromper o novo rumo que sua vida tomara desde os 18 anos, quando ingressara na Unimep para cursar Engenharia de Produção (inclusive fazendo iniciação científica), levando-o a encarar o esporte apenas como hobby. Teve de parar com a faculdade e também com o estágio na Polícia Militar, no qual estava havia seis meses.

Foi por causa de um carro que Yves Carbinatti deu a volta por cima.

Entre 50 e 60 pessoas estavam na sala de espera do hospital, aguardando a notícia do que lhe havia acontecido. As primeiras a saberem que o jovem ficaria paraplégico e a comunicarem a ele sua nova condição foram sua mãe e seu irmão. Em vez de raiva ou inconformismo, o sentimento de Yves foi outro:

–– Olhei e dei risada, porque fazia muito tempo que não estávamos juntos assim.

Ter de passar a viver sobre uma cadeira de rodas não o desanimou:

–– Aí é que tive mais vontade de correr atrás de meus objetivos e, desde então, venho lutando para me superar.

Yves começou a recuperação em casa, com uma fisioterapeuta particular, e depois foi obter ajuda na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), em São Paulo.

–– Não tenho palavras para explicar o que médicos, terapeutas ocupacionais e outros profissionais fazem na AACD. Todo mundo está lá preocupado em ver o resultado, a pessoa se reabilitando a cada dia.

Na instituição, o jovem foi incentivado a praticar hipismo ––a equoterapia o auxiliou no ganho de força e no equilíbrio do tronco–– e a ser piloto de kart.

Hoje com 25 anos, Yves pôde aos 22 enfim realizar o sonho adiado em 1994, quando tinha apenas 7.

–– Há 18 anos tinha esse sonho, mas não tive oportunidade. Agora, após o acidente, tive essa chance.

No primeiro teste, impressionou. No segundo, superou-se. No terceiro, assinou contrato e deu início à carreira nas pistas. Estreou no parakart em 2010 e, em maio de 2011, acelerou na Stock Car Jr., tornando-se o primeiro piloto paraplégico a disputar a categoria.

Atualmente, alcança 250 km/h e suporta 80 graus no interior de seu veículo, adaptado, onde precisa controlar cinco funções ao mesmo tempo: acelerador, freio, embreagem, câmbio e volante. Foi necessário, entretanto, treinar intensamente a entrada e saída do carro, por causa da imobilidade das pernas ––na primeira vez em que teve de colocar em prática o procedimento, num acidente a 150 km/h, saiu-se bem, dispensando até a ambulância.

Yves também retomou a faculdade, após um ano parado. Regressou em 2009 e formou-se em 2011.

–– Graças a Deus, não tive dificuldade tanto em amizade quanto em acessibilidade.

Os amigos, por sinal, o homenagearam na colação de grau, com dizeres, em uma faixa, ressaltando sua força de vontade.

O mais recente passo dado por Yves foi o retorno ao jiu-jítsu, este ano, estimulado pelo campeão mundial do UFC (Ultimate Fighting Championship) e um dos melhores lutadores do mundo, que se sensibilizou com sua história de superação.

–– Quem me apoiou muito foi o Anderson Silva, que disse que as pessoas com deficiência vão poder lutar também.

Da experiência de vida que acumulou, Yves carrega consigo palavras-chave para conviver ("por favor", "obrigado" e "com licença") e pessoas a quem agradecer (família, amigos, apoiadores e todos aqueles que estão à sua volta).

O jovem cadeirante destaca que é preciso sempre confiar em Deus e em si mesmo.

–– Não terá medo que o fará desistir ou desacreditar na sua vida.

Para ele, há uma frase que sintetiza o que passou nos últimos anos.

–– Desistir é a saída dos fracos, persistir é a solução dos fortes.

PALESTRA
Yves Carbinatti contou sua trajetória de vida na noite desta segunda-feira (27) no anfiteatro da Faculdade Anhanguera de Piracicaba. Cerca de 150 estudantes dos cursos de Fisioterapia e Enfermagem acompanharam a palestra, que integra a 7ª Semana da Acessibilidade e Inclusão, promovida pelo Fórum Municipal Permanente da Pessoa com Deficiência, de iniciativa do vereador André Bandeira (PSDB).

O parlamentar, que também é professor da Anhanguera, destacou o intuito do evento. "O principal objetivo é levar informação, interação e conscientização a respeito da deficiência, da acessibilidade e, principalmente, da inclusão."

A Semana da Acessibilidade e Inclusão segue nesta quarta-feira (29), com o lançamento do livro "Maria de Rodas", da escritora Flávia Cintra, às 7h30, no anfiteatro da Acipi (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba). Já o encerramento está marcado para a próxima sexta-feira, às 19h, com o 3º Desfile de Moda Inclusiva, na praça de eventos do Shopping Piracicaba.

 

TEXTO: Ricardo Vasques / MTB 49.918

FOTOS: Davi Negri / MTB 20.499

Fórum Pessoa com Deficiência

Texto:  Ricardo Vasques - MTB 49.918

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