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Com público recorde, oficina orienta policiais em abordagens a surdos
Ministrado pela psicóloga Rebeca Maniezzo da Silva, conteúdo focou em expressões recorrentes utilizadas no dia a dia do trabalho das corporações
Oficina voltada para policiais aconteceu na tarde desta quinta-feira (16)
“Eu peço a vocês: paciência”, orientou a psicóloga Rebeca Fialho Maniezzo da Silva na oficina “Libras para atendimento na área da polícia”, promovida pela Escola do Legislativo "Antônio Carlos Danelon - Totó Danelon”, da Câmara Municipal de PIracicaba, na tarde desta quinta-feira (16). Com público recorde -- tendo mais de mil inscritos --, o evento teve 1.101 visualizações no YouTube e contou com 23 participantes diretos no Zoom.
Pós-graduada em Terapia Cognitiva Comportamental e professora de Libras, Rebeca reiterou aos profissionais da área de segurança alguns dos principais cuidados para desenvolver uma abordagem que respeite a condição da pessoa com deficiência. “Eu me lembro de um episódio, em que um surdo colocava som alto no carro, porque, embora ele não escutasse, ele sentia a música com o corpo, a polícia fez a abordagem, e ele não estava entendendo nada, não sabia que precisava parar”, relatou.
O caso ilustra algumas das características do surdo, que, conforme enfatizou a profissional, sofre pela dificuldade de comunicação. “Por isso, eu peço que fixem o olhar, questionem com calma, peça a ele para copiar a sua ação, caso você saiba a Libras, porque, como qualquer outra pessoa, ele vai respeitar a autoridade policial”, disse ela, que também é surda e teve como intérprete na oficina Thiago Laubstein, contratado pela Câmara.
Rebeca iniciou o conteúdo perguntando se os policiais já tiveram contato com pessoas surdas no atendimento e ainda questionou como foi essa abordagem e quais foram as dificuldades de comunicação. Na sequência, ela explicou que a Libras (Língua Brasileira de Sinais) pode conter regionalismos, sotaques, palavras diferentes dependendo das cidades. “É uma língua e, assim como o Português, tem variações dependendo da região”, disse.
Para exemplificar como é possível se comunicar com surdos, mesmo sem ter o domínio da Libras, ela apresentou algumas imagens, como uma pessoa bebendo água, uma lata de Coca-cola, um motorista dirigindo um carro e outro pilotando uma moto, assim como uma mulher trabalhando em casa, “você pode representar cada uma destas atividades a partir de mímicas e isso já é uma forma de buscar o diálogo com um surdo”, explicou.
Mas Rebeca salientou a importância de se buscar aprender a Libras, “em todas as esferas sociais”, pontuou. Ela ressalta que para pensar na inclusão nas corporações como polícia e bombeiro, é preciso criar um diálogo com as pessoas com deficiência. “O meu objetivo aqui é apresentar algumas dicas, até para quebrar o medo de que as pessoas tenham de chegar perto do surdo”, disse, ao lembrar que, para se tornar fluente, “é preciso estudar sempre”.
A psicóloga lembra que a referência do surdo é “conexão visual”, disse, “ao invés de aprender as palavras, o bebê que é surdo entende a partir de sinais”. Sendo assim, ela sugeriu aos policiais uma abordagem que seja paciente junto ao surdo. “Se é para colocar as mãos na cabeça, o policial pode indicar isso, de maneira calma, sem gritar, é o que a gente chama de classificador e já contribui na comunicação”, detalhou.
Outras dicas são nunca chamar o surdo com a mão na boca, nem identificá-lo como “mudinho” -- “afinal, eles têm as cordas vocais”, salientou -- e procurar sempre se expressar utilizando expressões faciais em conjunto com os movimentos corporais.
A professora também destacou alguns sinais que representam departamentos públicos, como Detran, delegacia, bombeiro, assim como sinais básicos para solicitar documentos, como RG, telefone, e até mesmo o cumprimento inicial para a primeira abordagem. “A polícia tem regra para fazer abordagem, então precisa se adaptar a essas características.”
A oficina é fruto de parceria entre a Escola do Legislativo e o comandante do CPI-9 (Comando do Policiamento do Interior Nove), coronel da PM Willians de Cerqueira Leite.
“A Escola tem importante papel no desenvolvimento de políticas públicas e na participação da sociedade, e essa oficina é uma forma de melhorar a segurança pública”, destacou o vereador Pedro Kawai (PSDB), coordenador da Escola do Legislativo. “Com o projeto Câmara Inclusiva, passamos a conviver no dia a dia da pessoa com deficiência”, disse.
Diretora da Escola do Legislativo, a vereadora Silvia Morales (PV), do mandato coletivo “A Cidade É Sua”, destacou a “alegria muito grande” em trazer uma oficina sobre inclusão, justamente durante a campanha Setembro Verde e Azul, que trata de uma discussão em torno da pessoa com deficiência nos serviços públicos. “Devemos destacar acessibilidade, sempre com sustentabilidade, que é importante para a vida como um todo”, disse.
A coordenadora do Grupo Libras, Bia Turreta, demonstrou satisfação por possibilitar uma oficina direcionada aos policiais. “A gente ficou pensando em como poderíamos aproximar a comunidade surda com as corporações de segurança, e hoje temos uma oficina com tantas inscrições, realmente é uma grande satisfação”, destacou.
A oficina da Escola do Legislativo pode ser assistida, na íntegra, no canal do Youtube, diretamente neste link.
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