EM PIRACICABA (SP) 31 DE OUTUBRO DE 2023

CPI do Caso Jamilly pede cópia do contrato de médica com a OSS

Comissão também avalia influência da falta de atendimento de Jamilly por médico especialista em Pediatria




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Foram ouvidos, nesta terça-feira (31), representantes da diretoria da Santa Casa e médica que prestou atendimento a Jamilly no hospital

Crédito: Fabrice Desmonts - MTB 22.946


A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga a morte, por picada de escorpião, da menina Jamilly Vitória Duarte, de 5 anos, requisitou cópia do contrato entre a OSS (Organização Social de Saúde) Mahatma Gandhi e a médica responsável pelo atendimento da paciente na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Vila Cristina, na noite de 11 de agosto. A questão surgiu a partir dos depoimentos de profissionais da área de saúde, tomados nesta terça-feira (31). Foram ouvidos gestores da Santa Casa, para onde a criança foi transferida e onde morreu na manhã seguinte e também a médica pediatra intensivista que prestou o atendimento a ela na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital.

A UPA é administrada pela OSS desde 1º de julho e é ponto estratégico para atendimento de picadas de escorpião. No entanto, o soro antiescorpiônico não foi aplicado na menina na unidade. Através dos depoimentos, a CPI tem coletado informações que possam contribuir para uma sugestão de protocolo de atendimento para esses casos, no relatório final dos trabalhos. Outro ponto observado pela comissão é o apontamento quanto à falta de atendimento especializado por médico pediatra à criança. A médica que atendeu Jamilly na UPA admitiu, em depoimento à CPI, que não é especialista.

Em um dos depoimentos tomados nesta terça-feira (31), foi relatado o formato usual de contratação de médicos para serviços de urgência e emergência em geral, que muitas vezes não possuem contratos formais e o profissional atua como prestador de serviços. A problemática, nesse sentido, é que o médico não passa por um processo de integração e acaba por conhecer a rotina da unidade onde trabalha somente no dia a dia.

A médica que prestou atendimento à Jamilly é recém-formada, não possuía experiência em urgência e emergência e disse, em depoimento à CPI, que não sabia que a UPA da Vila Cristina era um ponto estratégico para acidentes com escorpião. A profissional alegou que sequer sabia que a unidade possuía o soro antiescorpiônico.

Outro ponto abordado foi o foco do atendimento prestado a Jamilly, que ficou concentrado na tentativa de transferência da criança para a Santa Casa e não no socorro em si, que deveria ser imediato, com a neutralização do veneno o mais rápido possível. Conforme os depoimentos tomados anteriormente pela CPI, a médica responsável pelo atendimento na UPA encontrou dificuldades para preenchimento dos dados no sistema para registro do pedido de transferência da criança, o que também teria atrasado o atendimento.

Pediatra – Também prestou depoimento à CPI, nesta terça-feira (31), a médica pediatra intensivista Valéria Borba de Souza, que atendeu Jamilly na UTI da Santa Casa. Aos vereadores, a profissional relatou como foi o atendimento à criança no hospital, onde ela recebeu o soro antiescorpiônico assim que deu entrada, mas mesmo assim não resistiu. A médica contou como foram as últimas horas de vida de Jamilly, a estabilização após a aplicação do soro, a piora do quadro na manhã seguinte, a parada cardiorrespiratória, as tentativas de ressuscitação até a declaração do óbito.

A médica apontou que têm sido recorrentes os casos de crianças que não são atendidas por pediatra em serviços de pronto atendimento na cidade, o que pode fazer diferença para o sucesso das ocorrências. “É um fator que poderia fazer a diferença. A criança precisa de um atendimento especializado”, afirmou. “A Pediatria é uma especialidade que tem apresentado pouca aderência, é uma área difícil e o mercado está bastante complicado. Mas quem não tem experiência em atender criança, pode acabar se complicando”.

Também prestou depoimento à CPI, nesta terça-feira (31), o diretor técnico da Santa Casa, André Gervatoski Lourenço. Ele contou sobre o conhecimento que teve do caso de Jamilly e a avaliação feita sobre o protocolo seguido no hospital, apesar da evolução desfavorável.

“Eu me preocupei em avaliar se foi seguido o que havia sido discutido com as equipes e, dentro da possibilidade que havia, a assistência prestada na Santa Casa ocorreu de forma satisfatória, apesar do desfecho trágico”, colocou. Ele também falou sobre os protocolos seguidos para casos dessa natureza no hospital, para administração do soro o mais rápido possível em casos de crianças e a prioridade no atendimento, até mesmo com a tramitação posterior de documentos de internação para agilizar o cuidado ao paciente.

Contribuições – Para o presidente da CPI, vereador Acácio Godoy (PP), os depoimentos ajudaram a nortear os próximos passos dos trabalhos. “Eles nos deram parâmetros de atendimento em casos de picadas de escorpião, de protocolos que existem na Santa Casa e que não existem nas UPAs. Os gestores trazem uma visão muito importante do ponto de vista geral”, afirmou. “Já a médica trouxe a visão da especialidade. O pediatra é o profissional correto para o atendimento a criança, o que não aconteceu com a Jamilly. A médica trouxe para a CPI o quanto isso é importante e como pode ter feito a diferença. Isso vai fazer parte dos nossos apontamentos”.

O parlamentar também comentou sobre a requisição do contrato da médica que prestou o atendimento à criança na UPA. “A gente volta o olhar para uma estrutura que falhou. Por mais que tenham ocorrido equívocos de pessoas, a gente está a cada dia mais vendo que houve uma estrutura que não funcionou. A gente está abrindo essa caixa, entendendo todas as engrenagens para identificar todas essas falhas”, colocou.

Na próxima quarta-feira (8), às 8h30, a CPI vai dar continuidade aos trabalhos, com uma acareação entre três profissionais da UPA Vila Cristina. Na mesma data, serão ouvidos dois gestores da OSS Mahatma Gandhi. “O próximo passo agora é identificar as mentiras”, salientou Acácio Godoy. “Ouvimos muita coisa aqui que não está batendo, depoimentos que não são consistentes e agora a gente vai a fundo. Se for preciso, usaremos todas as ferramentas para chegar à verdade”.

A CPI também é composta pelo relator, vereador Gustavo Pompeo (Avante) e pelos membros Cássio Luiz Barbosa (PL), o Cássio Fala Pira, Paulo Camolesi (PDT) e Pedro Kawai (PSDB).

Comissão Parlamentar de Inquérito Paulo Camolesi Pedro Kawai Cassio Luiz Acácio Godoy Gustavo Pompeo

Texto:  Aline Macário - MTB - 39.904
Supervisão:  Rebeca Paroli Makhoul - MTB 25.992
Revisão:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337

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