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Campanha contra assédio e discriminação prega respeito a trabalhadores
Câmara aderiu à campanha "Respeite Todo Mundo", que tem foco em categorias de serviços usualmente terceirizados por empresas e pela administração pública
Público vestiu camiseta vermelha e preta com a mensagem da campanha Respeite Todo Mundo
Crédito: Rubens Cardia (MTB 27.118)A Câmara Municipal de Piracicaba aderiu à campanha "Respeite Todo Mundo", de combate ao assédio, à discriminação e ao preconceito em ambientes de trabalho, com foco em categorias de serviços usualmente terceirizados por empresas e pela administração pública, como auxiliares de limpeza, recepcionistas, porteiros e garis.
A ação é promovida na cidade pelo Siemaco (sindicato dos empregados nos segmentos de asseio, conservação, limpeza urbana, manutenção de áreas verdes e controle de pragas) e está sendo levada a todos os 645 municípios paulistas pela Femaco, a federação estadual da categoria.
Em ato que lotou o salão nobre da Câmara na tarde desta quarta-feira (25), trabalhadores, lideranças sindicais e vereadores vestiram a camiseta vermelha e preta da campanha, que estampa a hashtag #RespeiteTodoMundo e a mensagem "Eu luto por um ambiente de trabalho sem assédio e discriminação".
"O respeito não é só para nós, mas para todos. Assédio não é doença, mas adoece. Precisamos deixar de continuar achando que são normais questões que maltratam os outros e dar um basta nisso", disse a presidente do Siemaco, Renata Aguiar Souza, ao apontar que os trabalhadores terceirizados "sofrem mais nesses ambientes porque são 'peças' fáceis de serem trocadas".
"Se [como chefe] não estou contente, eu o transfiro para outro local. Ou então esse trabalhador tem receio de denunciar, para não ser hostilizado ou por medo de como os colegas vão enxergá-lo. Um ambiente de trabalho bom para todos nos ajuda a voltar para casa inteiros", completou a dirigente sindical, alertando para os efeitos nocivos à saúde mental dos empregados.
"Precisamos nos livrar desses ambientes tóxicos. Se tivermos treinamento e respeito, começaremos a mudar a forma como é hoje. Basta de xingamentos, humilhações, assédios, apelidos ofensivos, discriminação pela cor da pele, religião ou origem, homofobia, brincadeiras vexatórias, ameaças de demissão, isolamento do trabalhador no local de trabalho —causado muitas vezes por chefe ou líder— ou qualquer postura em desacordo às boas práticas de respeito e dignidade da pessoa nos ambientes de trabalho", listou Renata.
"Não podemos compartilhar isso, admitir que aconteça. Não posso aceitar que meu colega de trabalho e eu passemos por isso. Se nos unirmos e formos adiante, essas coisas acabam, porque perdem a graça. Se eu não rir de uma piada ofensiva, ela começa a perder a graça", refletiu a presidente do Siemaco.
A campanha prevê duas frentes de ação: a visita da equipe do sindicato a todas as empresas da cidade para promover a conscientização; e o estímulo para que trabalhadores que sofram ou testemunhem episódios de assédio, discriminação e preconceito façam a denúncia pelo formulário disponível no site femaco.com.br. O denunciante terá sua identidade preservada e a entidade acionará o sindicato de base para que sejam tomadas "todas as providências cabíveis", segundo os dirigentes.
"A empresa será cobrada por melhores práticas, se preciso for. Vamos pedir que treine melhor seus trabalhadores, que haja atenção a esses casos, que sejam levados a sério e que cada trabalhador, denunciando ou não, consiga ver a situação ser mudada. Pois existem ambientes de trabalho tóxicos que estão acabando com a dignidade das pessoas, e o chefe muitas vezes acha que está normal, o RH nem imagina que aquilo está acontecendo", exemplificou Renata.
"É muito lamentável quando encarregados, supervisores e líderes acham que está tudo bem quando tem alguém sofrendo dentro da empresa. O 'basta' é para que esses ambientes deixem de ser prejudiciais à saúde dos trabalhadores. Não se cale, denuncie; vamos acabar com as torturas psicológicas que destroem trabalhadores e suas famílias e os conduzem para afastamentos médicos, síndrome do pânico, ansiedade, depressão e, em muitos casos, levam ao suicídio", acrescentou a dirigente sindical.
O presidente da Câmara, Wagner de Oliveira (Cidadania), o Wagnão, demonstrou apoio à iniciativa e elogiou o compromisso das organizações que representam os trabalhadores de categorias geralmente terceirizadas. "Toda pessoa que sofre algum tipo de discriminação fica chateada quando o que era para funcionar certo não funciona e acaba até desistindo de fazer a denúncia. Dentro desse projeto terá agora um canal que é a Femaco; a partir daí, tenho certeza de que vai transformar tudo, num trabalho sério e digno."
Wagnão fez menção aos funcionários terceirizados da Casa, presentes no ato. "É motivo de orgulho para a Câmara participar desse projeto, reunimos vocês para ter o apoio para poder colocá-lo em prática. Aprendi na vida, com pouco tempo de idade, que a maior consideração que uma pessoa deve ter pela outra é o respeito e sempre tive isso para a minha vida. Já fui desrespeitado algumas vezes, mas soube ponderar para que a vida pudesse continuar", declarou.
Os vereadores Acácio Godoy (PP), Gilmar Rotta (PP), Sergio da Van (PL), Thiago Ribeiro (Podemos) e Zezinho Pereira (União Brasil) também participaram do ato, que contou com homenagens do Siemaco a quatro trabalhadores da empresa que presta serviços terceirizados à Câmara, representando toda a equipe: Ana Maria Borba (do setor de limpeza), Rosângela Dini, a Xuxa (copa), Edina Carvalho (recepção) e José Cícero Soares (manutenção e portaria).
Em vídeo gravado, o prefeito Luciano Almeida (PP) parabenizou o Siemaco pelo lançamento da campanha. "É importante trabalharmos unidos para que isso não aconteça", disse, em menção aos casos de assédio, discriminação e preconceito. "Na Prefeitura, já fizemos nossa parte: estamos iniciando a construção de um laboratório para saúde e prevenção de acidentes de trabalho, para que tenhamos, cada vez mais, ambientes melhores de trabalho", completou.
Presidente da Femaco, Roberto Santiago fez críticas à parte da sociedade que desrespeita "quem está atrás de um uniforme" e para a qual auxiliares de limpeza, porteiros e outras categorias são "invisíveis". "A sociedade precisa da gente; se não somos nós a fazer a varrição das praças, limpar os escritórios e coletar o lixo, quero ver quem vai fazer. Isso se chama saúde pública e, por cuidarmos das pessoas, queremos respeito."
O dirigente sindical ressaltou que a mudança deve ocorrer em todo tipo de relação. "É o conjunto da sociedade que tem de nos respeitar, a começar pelos grandes. Vamos construir de baixo para cima: dentro de casa, no ambiente de trabalho, no campo de futebol, no bar ou na festa de aniversário de alguém. Nunca mais abaixem a cabeça ou fiquem quietos quando forem desrespeitados."
Fabio Galdi Capello, advogado trabalhista do Siemaco, respaldou os trabalhadores com os direitos assegurados pela legislação brasileira e pelas convenções internacionais da qual o país é signatário. "O ambiente de trabalho tem que ser sereno, sadio. Diariamente pessoas nos procuram com doenças como depressão e ansiedade. Esse combate começa por vocês; vamos nos unir e, juntos, mudar essa prática", afirmou.
"Se denunciarem, eles [os denunciados] vão ser chamados no Ministério Público do Trabalho, no Ministério do Trabalho e na Justiça e vão começar a dar valor e aprender. Cabe a nós perceber o colega que está passando por essa situação, e vocês mesmos podem denunciar", esclareceu Capello, acrescentando que desde março a legislação obriga as comissões de prevenção de acidentes nas empresas a adotar medidas para evitar casos de assédio.
Chefe de inspeção de trabalho da gerência regional do Ministério do Trabalho em Piracicaba, Rodrigo Iquegami salientou que o combate às condutas nocivas em ambientes laborais "é de responsabilidade geral: do Estado e de toda a sociedade, inclusive dos sindicatos". "A discriminação é uma questão histórica, mas que no ambiente de trabalho se torna muito perceptível, seja na política salarial diferenciada ou no tratamento."
Iquegami distinguiu as duas formas de atuação do Estado para combater assédio, discriminação e preconceito nas relações de trabalho. "A primeira é a realização de mesas de entendimento: o Estado, quando provocado seja por trabalhador ou sindicato, chama o empregador e é obrigatório que os dois lados se sentem para chegar a uma resolução mediada pelo Estado. A segunda é a realização de ações de fiscalização contra discriminação por deficiência; raça, cor ou etnia; gênero ou orientação sexual; maternidade, paternidade ou situação familiar; e ações genéricas de assédio."
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