EM PIRACICABA (SP) 19 DE JULHO DE 2006

Modelo de Florianópolis poderá salvar animais abandonados em Piracicaba

Representantes de entidades e defensores dos animais se reuniram na noite de hoje (19/07/06), às 19h30, no plenário da Câmara, Francisco Antonio Coelho em reunião c (...)




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Crédito: Fabrice Desmonts - MTB 22.946


Representantes de entidades e defensores dos animais se reuniram na noite de hoje (19/07/06), às 19h30, no plenário da Câmara, Francisco Antonio Coelho em reunião coordenada pelo vereador Euclides Buzetto (PT) onde foi destacado a importância de ações imediatas junto ao prefeito Barjas Negri (PSDB) visando a suspensão de medida que permite a captura e morte de animais recolhidos em pontos centrais da cidade, envolvendo a população de gatos no Cemitério da Saudade e, de cachorros na Praça José Bonifácio. Na reunião também foi avaliada a experiência da cidade de Florianópolis, onde a Prefeitura criou uma coordenadoria específica para tratar do problema dos animais abandonados.

Por mais de duas horas, representantes de entidades como a Sociedade Piracicabana de Proteção aos Animais (SPPA), Associação Santa Olímpia, Movimento de Amparo ao Animal Abandonado; além de voluntários que atuam na defesa dos animais; da presidenta do Primeiro Cemitério para Animais de Piracicaba e, da presença dos vereadores do PSDB: José Aparecido Longatto e André Bandeira, os participantes da reunião ratificaram os encaminhamentos junto ao Executivo, pelos quais o prefeito Barjas Negri poderá tomar providência para estabelecer políticas adequadas em defesa dos animias, bem como receberá abaixo-assinado e, uma comissão de representantes dos defensores dos animais.

Uma nova reunião já está confirmada para a próxima quarta-feira, dia 26 de julho, às 19h30, na Câmara, onde serão reavaliadas as ações em favor do restabelecimento de uma política que contemple a sociedade e o poder público no tocante aos animais abandonados.

Na experiência de Florianópolis a constatação é que a capital do estado de Santa Catarina, no sul do Brasil é uma cidade turística que possui uma população de 370.000 habitantes fixos e tem esse número aumentado para até um milhão de habitantes nos meses de verão.

Possuía até o final de 2004, uma população estimada em 10.000 cães abandonados e errantes por suas ruas, praças e praias. A solução para o problema foi encontrada com a Coordenadoria.

A Coordenadoria do Bem-Estar Animal foi criada por iniciativa da Prefeitura Municipal de Florianópolis, em janeiro de 2005, com o objetivo de solucionar a grave questão dos animais sem dono, que também é um problema de saúde pública.

O órgão elaborou e colocou em prática diversos projetos, numa ação global e conjunta com a população e entidades.

Enquanto algumas prefeituras ainda insistem em usar a carrocinha para exterminar animais, as iniciativas da Coordenadoria do Bem-Estar Animal de Florianópolis são um exemplo de como tratar o problema de forma consciente, humana e eficaz.

É um exemplo a ser seguido por prefeituras de todos o país e especialmente por Piracicaba, que sempre foi vanguarda nas questões ambientais.

Ações da Coordenadoria:

Construção de um Centro de Vigilância Ambiental e Bem-Estar Animal: centro com toda a infra-estrutura necessária para resolver o problema da super-população de animais domésticos.

O centro terá salas de cirurgia, consultórios, laboratórios, auditório, canis, gatis, baias e inúmeros programas educacionais, como o de formação de mão-de-obra qualificada em segmentos da zootecnia.

Cartilha que será distribuída nas escolas

Projeto Amigo Animal: implantação de cartilha escolar cujo eixo fundamental é o respeito aos animais e ao meio ambiente. Essa cartilha será incorporada ao currículo das 37 escolas municipais entre alunos de primeiras às quartas séries do ensino fundamental. Os professores receberão treinamento específico para lidar com o tema. A educação é o primeiro passo para formar um dono responsável.

Combate à Venda Ilegal de Animais: as vendas informais de animais em logradouros públicos, praças e feiras, é combatida com o apoio de voluntários e da Guarda Municipal, que visita os locais preferidos pelos comerciantes ilegais. Esse tipo de venda induz as pessoas a comprarem, irrefletidamente, animais que muitas vezes terminam abandonados nas ruas.

Campanha de Esterilizações: dirigida aos animais das populações carentes e de baixa renda. A Prefeitura, dispõe dos recursos econômicos e a comunidade, através de voluntários, identifica os animais que deverão ser esterilizados em seus locais de origem. Os animais que necessitem algum tipo de tratamento o receberão gratuitamente por ocasião da esterilização.

Os animais errantes também são esterilizados. Para isso foi criada a figura do animal comunitário, que é todo aquele sem dono definido, mas com um voluntário responsável pelo seu acompanhamento.

Os animais encontrados em situação de maus-tratos serão retirados e seus donos denunciados ao Ministério Público. Todo animal esterilizado recebe um RGA (registro geral do animal), tatuado na orelha direita, para futura identificação. São realizadas até 500 (quinhentas) cirurgias por mês em um total de 3.000 (três mil) até janeiro de 2006.

Resultados:

Com 1000 fêmeas caninas esterilizadas no período de um ano deixarão de nascer 30.000 novos indivíduos, que fatalmente iriam perambular pelas ruas. Um cão produz em média 200 gramos de fezes e urina por dia. Com os 30.000 indivíduos que deixarão de nascer não serão lançados no nosso meio ambiente algo em torno de 6.000 Kg de dejetos por dia.

Voluntários da Patrulha Animal: recrutamento de voluntários com idade superior a 18 anos para trabalho nas comunidades carentes, dando suporte ao programa de esterilizações.

Denúncias: orientação de como proceder no caso de maus-tratos. Uma vez comprovada a denúncia, a Coordenadoria desloca uma equipe de resgate para o local, acompanhada de um médico veterinário e policiais civis ou militares. Os animais são resgatados e encaminhados ao Canil Municipal provisório onde são tratados e entram no programa de adoções.

O socorro a animais errantes atropelados, poli-traumatizados e doentes terminais também é feito. O veterinário da Coordenadoria comparece imediatamente, e avalia o caso.


Divulgação da Legislação de Proteção aos Animais: campanha, junto aos meios de comunicação, para informação à população sobre os direitos dos animais.

Programa de adoções: os animais resgatados pela Coordenadoria do Bem-Estar Animal são esterilizados e entram no programa de adoção com posse responsável. O interessado passa por uma entrevista onde é verificada a adequação do animal à família e às condições econômicas da mesma. Após a assinatura de um termo de compromisso, conforme a legislação vigente, o animal é liberado. Para agilizar o programa de adoções, foi criada uma página WEB com uma galeria de adoções e muitas informações úteis aos amantes dos animais.

Carrocinha nunca mais:

A carrocinha, veículo que sempre foi sinônimo de violência e extermínio de animais, não existe mais em Florianópolis. A carrocinha está de cara nova e com nova missão. É uma unidade móvel de apoio aos animais feridos, atropelados ou agressivos.

Funciona também como transporte para os animais que são esterilizados na campanha que começou em Agosto de 2005. Nos mais de 250 km que circula por dia, na cidade, a carrocinha vai levando uma mensagem positiva a favor das adoções, das esterilizações como forma de controle populacional, e divulgando a legislação que protege os animais.

Projeto Amigo do Carroceiro: consiste na prestação de serviços aos animais de tração, como: exames clínicos, tratamento de enfermidades, fornecimento de alimentação aos cavalos, casqueamento e ferrageamento, exames de fezes e desvermifugação, além de assistência às famílias dos carroceiros.

Realidade de Piracicaba

Em recente matéria divulgada no Jornal de Piracicaba, a Sociedade Piracicabana de Proteção aos Animais) afirma que o número de animais abandonados nas ruas de Piracicaba ultrapassa os 15 mil indivíduos (entre cães e gatos).

Os dados são de 2004 e constam na dissertação de mestrado da pesquisadora Cláudia Bueno de Campos, defendida na Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz).

Passados um ano e meio, a presidente da SPPA, Simone Vicente, acredita que a quantidade pode ser maior, chegando a 17 mil. A SPPA vai realizar hoje uma passeata, às 14h, na Praça José Bonifácio, em defesa dos animais abandonados.

Na matéria do JP, o secretário municipal da Saúde, Fernando Cárdenas, considera a projeção alarmante. Ele afirma, no entanto, não haver um senso preciso. Mas não descarta a possibilidade de que a quantia chegue mesmo aos 15 mil.

Cárdenas afirma ter tomado ciência da estimativa e manifestou, no final de abril, sua preocupação ao vereador campineiro Feliciano Nahimy Filho (PSDB) –– presidente UPA (União Protetora dos Animais) e um dos políticos da região com maior experiência na questão da defesa dos animais abandonados. Ele afirmou que, baseado na experiência, estimava entre 7.000 e 11 mil.

A dissertação da pesquisadora se destinava ao estudo da população de cães e gatos dentro da Esalq. O número estimado de animais abandonados na cidade foi fornecido pela direção do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da administração anterior e constava como questão secundária. No estudo, não é mencionada a metodologia por meio da qual o CCZ chegou ao número.

O número mais preciso, segundo Cárdenas, é o que se refere à quantidade de animais com donos nos domicílios de Piracicaba. Seria 52 mil o número de cães e 12,6 mil gatos habitando os lares dos piracicabanos.

A estimativa é baseada em uma metodologia fornecida pela Secretaria Estadual de Saúde, que calcula haver um cão, em média, em 52% das residências de uma cidade do porte de Piracicaba e um gato, em média, para cada 12,6% dos lares.

O secretário afirma que, na última campanha de vacinação contra a raiva, 40 mil animais foram vacinados. Isso preocupa. Sabemos que existe uma quantia que é vacinada em clínicas particulares, mas há uma lacuna aí e isso é grave, disse. O secretário teme ser acusado de omissão, caso um problema de saúde como raiva ou outras doenças como leishmaniose, atinja um morador da cidade. Se isso acontecer, vão nos criticar poder ter deixado de fazer algo que poderíamos ter feito.

Cárdenas afirma que no ano passado, três casos de raiva foram diagnosticados em morcegos pela secretaria de saúde de Piracicaba. Segundo o secretário, haveria um caso suspeito de leishmaniose em uma cidade do interior do Estado de São Paulo. Conhecida popularmente como úlcera de Bauru, a leishmaniose ocorre de três formas no Brasil: visceral (ataca os órgãos internos), cutânea (ataca a pele), e mucocutânea, (ataca as mucosas e a pele).

ARGUMENTO –– Os riscos à saúde pública são citados por Cárdenas para justificar as ações da secretaria, como o sacrifício de 1.921 animais no ano passado, realizado no canil mantido pelo CCZ, no bairro do Jupiá, e a captura de gatos no Cemitério da Saudade, realizada na segunda quinzena de junho. Legalmente, a prefeitura pode capturar e executar, depois de dez dias, qualquer animal abandonado nas ruas da cidade.


A presidente da entidade afirmou que conscientizar sobre posse responsável é questão secundária. A intenção primordial será mesmo protestar contra as ações da prefeitura.

A entidade defensora vinha dialogando com a prefeitura na tentativa de traçar uma estratégia comum para enfrentar o problema dos animais abandonados em Piracicaba.

No último dia 27 de junho, a SPPA protocolou uma representação no Ministério Público do Meio Ambiente, pedindo intervenção do promotor Fábio Salem de Carvalho no caso. Carvalho deu prazo de 30 dias para que a prefeitura responda a uma série de questionamentos.

O rompimento do diálogo teria sido tomado depois da decisão de capturar os gatos do Cemitério da Saudade (da população estimada em 150, oficialmente 16 foram retirados, dos quais três foram adotados, dois –– doentes –– sacrificados e os outros 11 continuariam no CCZ). A SPPA não teria sido consultada sobre a decisão.

Cárdenas diz ter interesse em retomar as negociações com a entidade. Não queremos esse rompimento. Foi uma medida unilateral da SPPA. Ficamos sabendo via jornal e nos surpreendemos. A secretaria continua aberta ao diálogo, disse. O secretário acredita que a direção da entidade estaria aberta à conversa, mas acredita que também esteja sendo pressionada pela população. É um assunto que envolve muitas paixões, disse.

Martim Vieira MTB 21.939
Foto: Fabrice Desmonts MTB 22.946
Legislativo Euclides Buzetto

Texto:  Martim Vieira - MTB 21.939

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