Projeto oficializa comemoração do aniversário do XV de Piracicaba
Rede de Apoio e Proteção à Mulher, em reunião, anuncia avanços
Impressão de 2 mil cartazes de campanha voltada ao combate à violência contra as mulheres é anunciada em reunião nesta quarta (25), que também debate o "Maio Furta-Cor"
Ao todo 2 mil cópias de 2 cartazes foram feitas e serão distribuídas em empresas da cidade. Objetivo é que mais entidades reproduzam e distribuam o material
Crédito: Fabrice Desmonts - MTB 22.946A Rede de Prevenção, Atendimento e Proteção à Mulher no Município de Piracicaba anunciou na tarde desta quarta-feira (24), em reunião na Câmara Municipal de Piracicaba, a impressão e início da distribuição de 2 mil cartazes produzidos no âmbito de uma campanha voltada ao combate à violência contra as mulheres.
As cópias dos cartazes produzidos por alunos do curso de design gráfico do Senac Piracicaba após proposta da Rede, com frases e imagens alusivas à violência de gênero, foram financiadas por meio de parceria com o Simespi (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas, de Material Elétrico, Eletrônico, Siderúrgicas e Fundições de Piracicaba, Saltinho e Rio das Pedras) e, agora, devem ser distribuídos nas indústrias associadas e em outros espaços públicos e privados.
Dos 13 cartazes produzidos - recentemente trazidos ao público na exposição intitulada “Marias Valentes”, que ficou em cartaz no Salão Nobre da Câmara entre os dias 5 e 31 de março - dois foram selecionados para serem inicialmente impressos e distribuídos.
“Queremos que a sociedade seja sensibilizada e que os agressores possam ser modificados nas suas essências”, disse a vereadora Rai de Almeida (PT), Procuradora Especial da Mulher da Câmara, que coordenou a Reunião da Rede, que contou com a participação de representantes de entidades da sociedade civil, do Senac e de órgãos e Conselhos municipais.
“São cartazes ilustrativos, que trazem frases de impacto no sentido de conscientização contra a violência e, também, dizendo onde denunciar, onde pedir ajuda em situações de emergência”, destacou Fabiana Menegon, Coordenadora do Cram (Centro de Referência de Atendimento à Mulher).
Ainda de acordo com a vereadora, os cartazes também serão reproduzidos e colados nas unidades municipais de ensino. O objetivo, agora, é que outros parceiros também adiram à campanha.
Durante a reunião, foi ainda sugerida a busca por novos locais para que os cartazes sejam expostos, como por exemplo na Festa das Nações, local com grande trânsito de público e de entidades que podem auxiliar na divulgação da campanha. A proposta será levada às entidades organizadoras do evento.
Para Célia Regina Rossi, professora da Unesp - Campus Rio Claro e membro da Rede Acampa Pela Paz e o Direito ao Refúgio, que trouxe a ideia à Rede após uma visita a Coruña, na Espanha, se disse muito emocionada em acompanhar a materialização dos cartazes.
“Essa materialização é importante pois ela veio de uma coisa real e tomou forma. Minha maior luta, agora, é que esses cartazes sejam distribuídos nos mais diversos lugares da cidade, na saúde, na educação, nos comércios, nas feiras públicas, dentro dos ônibus, para que os homens percebam o quanto isso atinge e faz mal às mulheres. A sociedade, doente, não cresce materialmente, não cresce na educação, e isso traz problemas também para os homens, pois a violência se expande”, disse.
“Essa é uma luta árdua, contínua e permanente. Temos alguns momentos de dificuldades mas acho que estamos caminhando bem. Estou satisfeita com o resultado desse trabalho e espero que essa campanha ganhe volume e densidade para que possamos obter os efeitos desejados”, falou Rai de Almeida.
Maio Furta-Cor - A reunião ainda contou com a participação de representantes da campanha Maio Furta-Cor, que tem como intuito sensibilizar a população para a causa da saúde mental materna.
“A campanha Maio Furta-Cor é uma campanha gratuita, voluntária, espontânea, inclusiva, democrática, horizontal, laica, desburocratizada, descentralizada, social, suprapartidária, transdisciplinar e colaborativa, ou seja, todo o cidadão pode participar e realizar ações levantando realmente a sensibilização da população para a causa da saúde mental materna”, disse a psicanalista e doula Rafaella Schmidt Benatti.
Ainda de acordo com ela, a campanha intitulada “Maio Furta-Cor, Saúde Mental Materna Importa” acontece no mês em que se comemora o Dia das Mães como forma de promover reflexões sobre os desafios impostos pela maternidade. Já o “Furta-Cor” representa uma composição de cores que aparecem de formas diferentes de acordo com a luz. “Isso conversa muito com a maternidade, pois cabem todas as cores, cabem todos os tipos de maternidade”, falou.
Segundo a representante, a Campanha foi iniciada em 2020, no Brasil, e, atualmente, já é realizada em 12 países. “É uma campanha que em pouco tempo já ganhou muito espaço, que surge da inquietação, dessa invisibilidade da mãe, desse sofrimento, dessa doença, desse adoecimento psíquico que acontece desde a gestação e que aflora no puerpério, com as questões biológicas e com as questões sociais, que ficam invisibilizadas por conta da romantização da maternidade, [da ideia de que] a mulher é forte, que ela dá conta, que ela é capaz. Esse sofrimento, esse adoecimento fica muitas vezes nas entrelinhas”, ponderou.
Rafaella também apresentou dados que reforçam a necessidade de uma atenção cada vez maior para o tema da saúde mental materna: “uma a cada quatro mulheres sofre violência no parto, e essa violência pode se transformar um um transtorno de estresse pós-traumático, com adoecimento psíquico. Uma a cada quatro mulheres se deprimem no pós-parto, mas nem sempre esse adoecimento surge só ali, ele já estava ali na gestação e ninguém se atentou para isso. Uma a cada duas mulheres perde o trabalho depois de ser mãe. No mundo, há de 10 a 15% de adoecimento pela depressão perinatal. No Brasil, 25%. Nos países subdesenvolvidos, 19,8%. E, no estado de São Paulo, 38,8%. É um número muito alto, que pede nosso olhar. Temos também um levantamento de que 82% das mulheres que têm depressão perinatal não são assistidas”.
Para a também doula e psicóloga Jéssica Telhada, a diminuição das redes de apoio e os altos índices de violência obstétricas colaboram para a construção de uma atmosfera negativa que impacta na saúde mental materna.
“Temos no Brasil um dos maiores índices de violência obstétrica e o segundo maior índice de cesáreas desnecessárias. Todo esse caminho durante a maternidade vai adoecendo a mãe. Vivemos em uma sociedade em que as mães têm que dar conta de tudo sozinhas. As redes de apoio diminuíram drasticamente. Há ainda o medo que se coloca na mãe desde que ela engravida, com todo o risco da gestação, que vai alimentando esse lugar de medo, assim como no parto, em que há altos índices de violência obstétrica, de falta de informação”, acrescentou.
Rai de Almeida destacou a importância do tema ser cada vez mais trazido e acolhido pela Rede, e também lembrou a aprovação, em 2022, de projeto de lei de sua autoria que resultou na Lei 9765/2022, que institui a campanha no Calendário Oficial de Eventos do Município. De acordo com os presentes, propostas de debates e conversas sobre a campanha serão levadas às entidades participantes.
Segundo as representantes do Maio Furta-Cor, uma marcha está agendada para o dia 11, no sábado que antecede o Dia das Mães, às 15 horas, no gramado da Esalq para sensibilizar a sociedade sobre a importância da saúde mental materna.
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