A Câmara realizou em seu salão nobre, na noite desta terça-feira (6), reunião solene para a entrega do "Prêmio Chico Mendes de Ecologia e Meio Ambiente", conforme o Decreto Legislativo 5/1999 e como parte das atividades referentes à "Semana do Meio Ambiente". A homenagem contemplou a Fundação Agência das Bacias PCJ, nos quase 30 anos da criação dos comitês das bacias que nortearam o saneamento de Piracicaba e região.

Coautora da solenidade, a vereadora Silvia Morales (PV), que também preside a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara, enfatizou a visão do mandato coletivo A Cidade é Sua e do Partido Verde em realizar, por mais um ano, a "Semana do Meio Ambiente" e a entrega do "Prêmio Chico Mendes". Ela lembrou o surgimento do evento na Câmara e as pessoas e entidades anteriormente homenageadas. "O meio ambiente é vida", sintetizou, em reforço ao pensamento do ex-vereador e ex-presidente do PV em Piracicaba, João Pauli.

Silvia Morales exaltou o legado histórico de Chico Mendes, que nasceu em Xapuri, no Acre, e se notabilizou mundialmente pela luta em prol da defesa da Amazônia e dos povos originários. A vereadora também enalteceu os homenageados da noite, que integram a Fundação Agência das Bacias PCJ, com destaque a políticos e personalidades que se notabilizaram em defesa dos recursos hídricos.

Receberam o prêmio, representando a Fundação, o diretor-presidente, Sérgio Razera; a diretora técnica, Patricia Gobet de Aguiar; o diretor administrativo e financeiro, Ivens de Oliveira; o presidente do conselho deliberativo, Paulo Roberto; o presidente do conselho fiscal, Luiz Alberto Gustineli Carneiro; e o secretário-executivo do Comitê PCJ, André Navarro.

Ao falar em nome da Fundação, Sérgio Razera parabenizou a Câmara pela instituição do prêmio, em reverência ao legado de Chico Mendes, "que atuou em prol de nossas florestas, dos animais e de toda vida aqui no Brasil e no planeta Terra". Ele agradeceu o papel do mandato coletivo A Cidade é Sua na escolha da Fundação como merecedora do prêmio. "Do fundo do coração, muito obrigado por esta homenagem, que muito nos emociona", disse.

Sérgio Razera observou que não existiria a Fundação Agência das Bacias PCJ sem o Comitê das Bacias, que centraliza a capacidade e o poder de decidir, tendo em conta as informações de como recuperar e melhorar as condições dos rios. "Nós, que estamos pensando no meio ambiente, estamos sempre pensando no futuro", pontuou, ao mostrar o trabalho da Fundação e exaltar os 30 anos que o Comitê PCJ completará em novembro.

O diretor-presidente da instituição relembrou as condições do rio Piracicaba na década de 1990: "um dos mais poluídos, tão degradado como o rio Tietê", com grandes mortandades de peixes e outros problemas, o que provocou vários movimentos da sociedade, culminando com o surgimento do Consórcio Intermunicipal, a aprovação de lei estadual em 1991 e, em seguida, a criação do Comitê PCJ.

"Em 1993, tínhamos na região 3,5 milhões de habitantes e próximo de 60% de água tratada, 50% de coleta de esgoto, 6% de tratamento de esgoto e mais de 50% de perdas nas redes de distribuição de água", disse Sérgio Razera. Segundo o ambientalista, quando tiveram início os debates sobre a criação dos Comitês PCJs e a busca por informações sobre "onde e com que tecnologia fazer e de onde viria o dinheiro para executar", o momento foi de "efervescência e grandes discussões" na região, que envolve 76 municípios desde Sapucaí Mirim, no sul de Minas Gerais, em cuja zona rural estão as nascentes mais distantes do rio Piracicaba.

"Essa efervescência, esses trabalhos, esses 30 anos de caminhada nos trouxeram até aqui, neste momento, onde temos próximo de 6 milhões de habitantes, mais de 90% de água tratada e mais de 90% de coleta de esgoto, onde atingimos mais de 82% de tratamento e as perdas estão na casa dos 36%, em média. Óbvio que ainda não salvamos o rio Piracicaba, mas saibam que esta equipe, esta família PCJ trabalha unida para que essas condições possam sempre ser melhoradas", concluiu Sérgio Razera, reforçando a importância de parcerias e ações governamentais para preservar o meio ambiente.

Em participação especial durante a solenidade, o ator João Scarpa, que integra o mandato coletivo A Cidade é Sua, se incorporou à personagem de Chico Mendes para trazer sua luta pela humanidade, lembrando que seringueiros, índios e ribeirinhos há mais de 100 anos ocuparam a floresta e nunca a ameaçaram. "As ameaças são os projetos agropecuários, os grandes madeireiros e as hidroelétricas, com suas inundações criminosas. Ecologia sem luta de classe é jardinagem. A nossa luta é pela defesa da seringueira, da castanheira. É esta luta que nós vamos levar até o fim, porque não vamos permitir que as nossas florestas sejam destruídas", disse.

"No começo, eu pensei que a gente estava lutando para salvar as seringueiras. Aí depois eu pensei que a gente estivesse lutando para salvar a Floresta Amazônica. Mas, agora, eu percebo que a gente está lutando pela humanidade. Tenho a esperança de continuar vivo. É vivo que se fortalece a luta! Não quero flores no meu enterro, pois sei que vão arrancá-las de lá; quero que protejam a terra, a água e o ar", concluiu o ator, seguido por teatralização do que teriam sido os últimos momentos de Chico Mendes e sua mensagem de luta que repercute pelo mundo até hoje.

Representando a Sema (Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento), o engenheiro agrônomo Daniel Prezoto Longato justificou a ausência da titular da pasta, Nancy Thame, e falou da satisfação da Sema em ver a concretização do "Prêmio Chico Mendes", trazendo o reconhecimento devido às ações temáticas do meio ambiente, que têm a ver com o rural, na área de atuação da secretaria. "Pensar no meio ambiente é como plantar sementes, que não são vistas num primeiro momento, mas que fazem toda a diferença para as futuras gerações", afirmou Daniel.

Também integrando a mesa de honra na solenidade, a presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Piracicaba, Mariana Cortijo Costa, falou da importância do tema. "Devemos olhar global e agir localmente, repensar a nossa interação com o meio ambiente", disse.

A reunião solene, que foi realizada a partir do requerimento 334/2023, assinado por Silvia Morales e também pelos vereadores Laércio Trevisan Jr. (PL) e Zezinho Pereira (União Brasil), destacou, em vídeo, a atuação da Fundação Agência das Bacias PCJ, que, entre outras ações, investiu mais de R$ 2 milhões em estudos, R$ 2 milhões em geoprocessamento e R$ 230 milhões em infraestrutura no saneamento básico, além de ter plantado mais de 188 mil mudas e ter a meta de realizar o replantio de outras 500 mil até 2025. 

O legado de Chico Mendes também foi retratado em outro vídeo, que mostrou como o menino, aos 9 anos, seguiu os passos do pai e aos 20 aprendeu a ler para, então, se tornar defensor da terra e dos povos indígenas, atraindo a ira de fazendeiros com sua luta em defesa da natureza. Chico Mendes, assassinado em 1998, tornou-se referência no ambientalismo internacional.