O refeitório da Câmara Municipal de Piracicaba receberá a denominação de “Madalena Leite – vereadora”, conforme estabelece o Projeto de Resolução nº 5/2025, de autoria da vereadora Silvia Morales (PV), do Mandato Coletivo “A cidade é sua”. A propositura foi aprovada nesta segunda-feira (12), durante a 25ª Reunião Ordinária de 2025.

A resolução determina a afixação de uma placa no local com o nome da homenageada, sua foto e um QR Code que leva ao perfil da ex-vereadora no site da Câmara. A justificativa apresentada pela autora relembra a trajetória de Madalena Leite, primeira e única travesti negra eleita vereadora em Piracicaba, em 2012.

Madalena Leite nasceu com o nome de Luis Antonio Leite. Ainda na adolescência, aos 15 anos, adotou o nome Madalena após um concurso realizado por moradores da república “Canecão”, onde trabalhava como faxineira com a mãe. Desde então, passou a se apresentar como mulher.

Trabalhou por décadas como cozinheira e faxineira em residências particulares e repartições públicas. Atuou também como merendeira na Secretaria Municipal de Educação de Piracicaba, profissão pela qual expressava grande apreço. Sua atuação se estendeu à área comunitária, como presidente do centro comunitário do bairro Boa Esperança.

Madalena disputou uma vaga na Câmara Municipal em seis eleições: 1988, 1992, 1994, 2004, 2008, 2012 e 2020. Foi eleita vereadora em 2012, com 3.035 votos, tornando-se a primeira e única travesti negra a ocupar uma cadeira no Legislativo municipal. Durante o mandato, enfrentou episódios de preconceito e ameaças, o que a levou a pedir afastamento por motivos de saúde no início de 2016. Optou por não disputar a reeleição.

Sua vida pública foi marcada pela defesa da diversidade, pela atuação em pautas populares e pelo contato próximo com a população. A história de vida de Madalena foi documentada no filme “Meu nome é Madalena”, dirigido por Thiago Barros, com depoimentos da própria homenageada, familiares e amigos.

Em 2021, Madalena foi vítima de um crime violento que resultou em sua morte. O assassinato teve repercussão nacional. A Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo e a Coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual manifestaram pesar.

A justificativa da proposta ressalta que, por ter atuado como cozinheira, é simbólico que o refeitório da Câmara – espaço de convivência entre servidoras e servidores – receba seu nome. A homenagem busca eternizar sua memória na Casa Legislativa e valorizar sua história de vida, resistência e serviço à cidade.

Na justificativa de voto, a vereadora Silvia Morales destacou que a escolha do nome de Madalena Leite para o refeitório segue a lógica adotada pela Câmara ao denominar outros espaços em homenagem a figuras históricas que tiveram papel de pioneirismo na instituição. Ela defendeu que o refeitório é um espaço simbólico pela relação direta com a história de vida de Madalena, que atuou como cozinheira e merendeira. Também propôs a troca das plaquetas e a inclusão de fotos de mulheres nos ambientes institucionais da Câmara.

O vereador Pedro Kawai (PSDB), ao justificar seu voto, relembrou a trajetória de Madalena como figura popular e querida em Piracicaba. Destacou sua atuação em defesa das comunidades, sua presença marcante nas ruas da cidade e a importância de sua representatividade. Ele classificou a homenagem como justa e sugeriu, inclusive, a criação de uma estátua em sua memória, como forma de reconhecimento à relevância de sua história para o município.