Em um instante, a sessão do Cine Plaza que nunca aconteceu
Há 60 anos, Esalq recebia restos mortais do seu casal-fundador
Escola Superior de Agricultura inaugurou em 12 de junho de 1964 o mausoléu de Luiz de Queiroz e Ermelinda Ottoni
Imagem de 2017 retrata a vista aérea do amplo gramado e vegetação e, ao fundo, o prédio principal da Esalq/USP
Crédito: Arquivo Histórico da CâmaraLuiz Vicente de Souza Queiroz nasceu em 12 de junho de 1849.
Em sua juventude, recebeu uma sólida formação técnica em instituições de ensino voltadas à agricultura na Europa (Escolas de Agricultura de Grignon, na França, e a de Zurique, na Suíça). Após o período de estudos, Luiz de Queiroz retorna ao Brasil e instala em Piracicaba, em 1876, uma grande indústria de tecido de algodão: o complexo têxtil Fábrica de Tecidos Santa Francisca.
Ermelinda Ottoni nasceu em 21 de março de 1856.
Sempre muito ativa, quando jovem viajou com os pais por Europa, Estados Unidos e Ásia, período no qual certamente adquiriu conhecimento e experiência. À frente de seu tempo, era uma mulher de temperamento independente e reconhecidamente culta.
Em 1880, Luiz de Queiroz e Ermelinda Ottoni se casam.
Ambos empreendedores, participavam ativamente, juntos, das reuniões e viagens de negócios. Vanguardistas, foram pioneiros na instalação do sistema de telefonia de Piracicaba, em 1882, e na instalação da Usina Hidroelétrica responsável pelo uso da eletricidade na iluminação pública da cidade em 1893, antes mesmo de capitais como São Paulo e Rio de Janeiro.
Mas o feito de maior destaque do casal se deu em 1892. Naquele ano, o governo paulista foi autorizado a fundar uma escola superior de agricultura e uma de engenharia e a estabelecer, nos lugares que julgassem apropriados, estações agronômicas com campos experimentais. Então, o casal decide doar ao governo a Fazenda São João da Montanha, com todas as benfeitorias existentes, mas com uma condição: a escola teria que ser concluída e inaugurada dentro de dez anos. Luiz de Queiroz, contudo, não pôde vivenciar este desejo, já que faleceu em 11 de junho de 1898.
Ermelinda, então, torna-se figura ainda mais fundamental para a inauguração da escola agrícola, que acontece em 3 de junho de 1901, momento em que ela presencia a materialização do antigo desejo do casal empreendedor. Ela viveria ainda por mais 35 anos – faleceu em 7 de abril de 1936, aos 80 anos.
Os restos mortais do casal estavam no Cemitério da Consolação, em São Paulo, até 11 de junho de 1964, quando foram exumados e trasladados para Piracicaba, a fim de que, no dia seguinte, 12 de junho, numa grandiosa cerimônia, fossem depositados num mausoléu no campus da Esalq/USP.
Evento de tamanha importância requisitava a presença de autoridades e personalidades da cidade. Então, em 9 de junho de 1964, a Câmara Municipal recebia um ofício, assinado por Hugo de Almeida Leme, à época diretor da Esalq, convidando os vereadores para as cerimônias que aconteceriam nos dias seguintes. No oficio, o diretor afirmava que “a colocação dos restos mortais do ilustre brasileiro em terreno desta Escola representa a maior homenagem que lhe poderíamos prestar”.
Em anexo ao ofício, há um outro documento, o Programa de Solenidades da trasladação, que detalhava todos os atos das cerimônias dos dias 11 e 12 daquele junho, que seriam os seguintes:
Dia 11/06/64
14h00 – Cemitério da Consolação, São Paulo. Partida do cortejo composto por autoridades, parentes dos homenageados, membros da Universidade de São Paulo, professores, alunos e funcionários da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.
17h00 – Chegada a Piracicaba. O cortejo será esperado a 1 quilômetro da Esalq por autoridades, professores, alunos e funcionários da Escola. As urnas serão transferidas de veículo da Esalq para um carro do Corpo de Bombeiros, com Guarda de Honra.
- Colocação das urnas no Hall da Escola, onde passarão a noite com Guarda de Honra militar e presença de autoridades, professores, alunos, funcionários e demais pessoas.
Dia 12/06/64
08h00 – Hasteamento da Bandeira Nacional.
09h30 – Transporte das urnas para a Catedral de Piracicaba.
10h00 – Missa Solene.
11h00 – Solenidade de colocação dos restos mortais do Engenheiro Agrônomo Luiz Vicente de Souza Queiroz e de sua esposa Dª Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz no Mausoléu erigido no ‘campus’ da Escola”.
Acompanhando o “Programa de Solenidades”, há três cartões, em dimensões menores: o primeiro contém a programação mencionada, mas de forma resumida; o segundo traz os nomes do casal com as respectivas datas de nascimento e falecimento; e o terceiro é um breve convite para a cerimônia, com timbre da USP, trazendo os nomes dos autores do convite: Luís Antônio da Gama e Silva, reitor da USP, e Hugo de Almeida Leme, diretor da Esalq.
Pois então, desde o solene 12 de junho de 1964, o campus da Esalq guarda os restos mortais de seus fundadores, num mausoléu projetado pelo artista piracicabano Archimedes Dutra, localizado em frente ao Edifício Central.
SINAIS DOS TEMPOS - Nos documentos, quando há citações ao casal, a forma de tratamento dispensada a Luiz de Queiroz é diferente da utilizada com a Ermelinda Ottoni. Ele é mencionado como “engenheiro agrônomo”, “ilustre brasileiro” ou “fundador e patrono”, enquanto ela é tratada tão somente como “sua esposa”.
Tanto quanto é verdadeiro que ele é merecedor de todos esses epítetos, também é verdadeiro que ela faz jus a iguais lisonjas, pois, como sempre se soube, Ermelinda possuía vasta cultura e espírito empreendedor, além de ser uma mulher visionária e vanguardista. Certamente, a falta de reconhecimento para com ela retrata o espírito da época em que ela viveu, mas jamais se encaixou. Em um tempo em que a esposa andava dois passos atrás do marido, Ermelinda caminhava lado a lado com Luiz de Queiroz.
ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" se pauta na publicação de documentos do acervo do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo. A iniciativa do Setor de Documentação em parceria com o Departamento de Comunicação Social, com publicações no site da Câmara às sextas-feiras, visa tornar acessíveis ao público as informações do acervo da Casa de Leis.
Notícias relacionadas
Comurba, 60 anos depois da queda: uma história inacabada
Instituições lembram os 60 anos da queda do Edifício Comurba
Caso Bonetti: os ritos do processo criminal no Século 19
A história do Brasil (e da cidade) passa pela Rua Governador
Queima de arquivo: o caso do réu Figueiredo
Achados: Câmara enalteceu a defesa de um presidente civil em 1909
Achados do Arquivo: o largo tem história e não apenas de pescador
Acervo da Câmara auxilia na formação sobre história afro-brasileira
Fotos digitalizadas retratam velório da ex-vereadora Ditinha Penezzi
Achados: contra o lucro, Piracicaba proibiu carrossel em área pública
Cápsula do Tempo revela o talento do jovem estudante Archimedes Dutra
Arquivo: Câmara disponibiliza novos documentos sobre estrangeiros
Achados: Mensagens de 1922 revelam esperança pelo futuro da educação
Achados do Arquivo: O pão nosso de (quase) todo dia