EM PIRACICABA (SP) 06 DE MARÇO DE 2020

José Mariano reafirma luta em prol do legado negro em Piracicaba

Prestes a completar 85 anos, em 20 de maio deste ano, o ancião contesta historiadores, autoridades e continua na sua peregrinação na defesa da Irmandade de São Benedito




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José Mariano reafirma luta em prol do legado negro em Piracicaba

Crédito: Fabrice Desmonts - MTB 22.946




José Mariano (84), ocupou a Tribuna Popular, da Câmara de Vereadores de Piracicaba, na 9ª reunião ordinária de ontem (5) para reafirmar a sua jornada de luta em prol do legado negro em Piracicaba, que também passa por questões afetas à Capela da Igreja São Benedito, rua do Rosário, 801, sob a coordenação da Diocese de Piracicaba, além da praça Jorge Tibiriçá, onde se encontra a Escola Estadual Moraes Barros, no cruzamento das ruas Do Rosário e Treze de Maio, em locais da região central, que estariam diretamente ligados ao povo negro, desde os idos de 1824, na edificação de Capela e Cemitério, nas 20 braças -- antiga medida de cumprimento -- que delimitaria área que fora destinada aos negros escravizados, sob a tutela da Irmandade de São Benedito. 

Recepcionado pelo vereador Osvaldo Schiavolin, o Tozão (PSDB), José Mariano ocupou a Tribuna Popular. E, saudou a todos, pela concessão da medalha Zumbi dos Palmares, em honraria que recebeu da Câmara.

"O que eu sou, são vocês que me fazem falar", disse. E, citou o ano 1824, na construção da Capela Nossa Senhora do Rosário, que cresceu e virou a Capela de São Benedito, se tornando a Matriz de Piracicaba, além de considerar a presença negra e dos escravizados.

Mariano também falou das 20 braças (2,2 metros linear) de terras onde se enterravam os negros, o que representa 44 metros, sendo que escravos foram enterrados lá (Praça Tibiriçá).

José Mariano também falou da Funerária Beneditina, da Irmandade de São Benedito, que também recebia corpos de fora, de outras cidades.

"A gente fica lendo, horas e horas, e vê, que ainda hoje a cidade marginaliza o negro", disse, além de questionar sobre a ausência de vereador negro.

Mariano também reafirmou que abraçou o tema de São Benedito, de coração. Disse que esteve na Assembleia Legislativa, em tratativas com a deputada estadual Leci Brandão, que ficou de dar apoio a esta causa.

E, voltou a falar da força da medalha. "Vocês precisam fazer mais, porquê nesta Casa sumiram com o livro de São Benedito. Disse que a igreja não existe. E, que foi a São Paulo, onde ficou por mais de duas horas, sentado, para atestar que a Igreja não existe em Piracicaba.

"O que a pessoa está pensando sobre o negro?", questionou. Para o ancião, tem hora que a gente chora.

"Tenho que vir aqui. Vocês têm força", disse Mariano, que também falou do Memorial Negro, a ser edificado na praça Tibiriçá, em homenagem ao que está lá, em projeto que a Prefeitura ficou de realizar.

Mariano também questionou os que o querem silenciá-lo. E, voltou a pedir força para o Memorial Negro em Piracicaba, com apoio de Leci Brandão, sendo que irá esperar em Piracicaba, pois o negro fundou esta cidade, além de São Paulo, onde está raça construiu o Brasil.

Lembrou que a Catedral da Sé, em São Paulo, foi construída por negros. "Os portugueses escravizaram o negro. Tenho que falar o que sinto. É duro. Põem nos seus corações e falem, vamos dar as mãos. Sou neto de escravo e vi o quanto minha vó sofreu. Em maio, dia 20, faço 85 anos. Desculpe meu desabafo, mas não vai parar aqui não", concluiu o orador, além de não medir palavras para contestar historiadores e autoridades, que se opõem à sua causa. 

Tribuna Popular

Texto:  Martim Vieira - MTB 21.939
Supervisão de Texto e Fotografia: Valéria Rodrigues - MTB 23.343

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