EM PIRACICABA (SP) 18 DE MARÇO DE 2022

Câmara foi decisiva na 1ª Estação de Captação e Bombeamento de Água

Os vereadores seguiram os rituais da igreja e os eventos promovidos pela empresa que instalou o maquinário junto ao salto do rio, garantindo água potável à população




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Câmara foi decisiva na 1ª Estação de Captação e Bombeamento de Água






Atas e documentos em posse e sob a guarda da Câmara Municipal de Piracicaba trazem as primeiras providências oficiais na implantação do serviço de abastecimento de água em Piracicaba, que contou com a participação dos vereadores da época Imperial, nos eventos que se sucederam na inauguração do sistema, com rituais da igreja e comemoração dos responsáveis pela implantação e operacionalização do serviço, o que colocou Piracicaba no rol das primeiras cidades brasileiras a garantir água potável à população.

Em 14 de maio de 1887, João Frick e Carlos Zanotta convidam a Câmara para a benção da obra do serviço de água na casa das máquinas (Museu da Água) e no jardim público (praça José Bonifácio). Documento datado do dia 22 de dezembro de 1885 apresenta a assinatura de contrato lavrado entre a Câmara Municipal e o engenheiro João Frick para os trabalhos de abastecimento de água encanada à população local. Para a consecução do contrato, o engenheiro João se associou a Carlos Zanotta, aos quais se deve, efetivamente, o melhoramento.

A elaboração do projeto ficou a cargo de uma Comissão, que também avaliou as bases do contrato, as quais foram aprovadas por unanimidade dos vereadores. O então presidente da Câmara, João Batista da Rocha Conceição cedeu gratuitamente todos os seus direitos sobre as ilhas do Salto, em benefício da empresa de abastecimento de água de que João Frick era concessionário.

Ainda em 1884, o engenheiro Fernando de Matos apresentou um projeto de abastecimento de água potável para a cidade, com retribuição obrigatória. Os vereadores da época: Canuto José Saraiva, Estêvão Ribeiro de Souza Rezende (Barão Rezende) e Prudente de Morais ficaram encarregados de, na companhia do engenheiro Francisco Júlio da Conceição, analisar o empreendimento.

O sistema de abastecimento inaugurado em Piracicaba ocorreu em 26 de maio de 1887, numa quinta-feira, seguido de eventos como a benção das obras e águas, conforme ritual da Igreja, às 8 horas da manhã, no edifício das máquinas, no Salto. E, na parte da tarde, às 5 horas, no jardim público da Matriz (Santo Antonio), atual praça José Bonifácio.

A discussão na época se pautava em como tornar viável a captação da água de um grande rio, levando-a até os moradores de uma cidade. Tratativas feitas pela Câmara Municipal com empresários (Frick e Zanotta) conduziram à concretização do projeto de retirar água do rio Piracicaba e bombeá-la para a cidade, numa iniciativa que era bastante moderna para o Brasil da época.

SISTEMA - o projeto era composto de um aqueduto que fazia parte das instalações inauguradas em 1887. A estação de captação e bombeamento foi construída ao lado do famoso "véu da noiva" (salto do Piracicaba), com as edificações necessárias para comportar todo o maquinário exigido. No local atualmente funciona o Museu da Água, que certamente vale uma visita, por mostrar não somente as instalações e máquinas da época como também outros equipamentos usados ao longo do século XX. Existe também, além disso, aquários nos quais podem ser observados peixes do rio Piracicaba, tudo muito organizado e com explicações facilmente compreensíveis. Procura-se passar uma ideia exemplar de preservação do patrimônio histórico, sem descuidar da instrução quanto às questões da atualidade, como é o caso da utilização responsável dos recursos hídricos.

HISTÓRIA - o rio Piracicaba atravessa uma das regiões mais antigas de ocupação do estado de São Paulo e está situado na cultura do estado e da cidade de Piracicaba, que cresceu ao longo de suas margens. Nesta cidade, diversas festas populares são realizadas às margens do rio, a figura do pescador caipira ainda resiste e a música caipira típica da região imortalizou o rio na música clássica Rio de Lágrimas.

Vídeo de tempos remotos, conforme o que segue acima, nos mostra aspectos culturais típicos da região de Piracicaba, a exemplo do Cururu, cantado pelo ícone deste estilo musical da época, o saudoso Parafuso. Além de mostrar a importância do uso da água, frente às ruas empoeiradas da época.

Levantamentos de pesquisas demonstram que em meados de 1824 o abastecimento de água da cidade já começava a preocupar a classe política, pois para se ter água em casa era necessário ir até o rio e retirar a água bruta em baldes e latões, que eram transportados em carroças ou no lombo dos animais. No atual Museu da Água, funcionou a primeira estação de captação e distribuição de água de Piracicaba e que foi também a primeira do interior paulista. Havia dois casarões no local, sendo um deles demolido na metade do século XX para dar lugar à avenida Beira Rio. Foram preservados dois conjuntos de turbina e bomba que no início do século passado foram responsáveis pelo bombeamento de água do Rio Piracicaba até a região central da cidade.

Somente em 1884 foi aprovada pela Câmara a lei que autorizava o município a contratar o engenheiro Fernando de Matos para executar os projetos voltados ao abastecimento. O contrato fora descumprido, fazendo com que a Câmara chamasse outros concorrentes. Em novembro de 1885, quatro propostas foram enviadas à Câmara e a vencedora foi de autoria de João Frick e Gregório Gonçalves de Castro. Um mês após, o engenheiro Hidráulico João Frick assina contrato com a Câmara e se associa ao construtor italiano Carlos Zanota. É dado o inicio da construção do primeiro reservatório, no bairro Alto, com capacidade para armazenar 2 milhões de litros de água. No início da primeira fase ainda não era possível abastecer as residências com água encanada, chegando apenas no chafariz da praça central, onde ocorreu a inauguração do “repuxo do jardim” em 26 de maio de 1887 - conforme foto acima. Meses após a experiência com o chafariz, deu-se início ao abastecimento das primeiras casas com 250 litros de água por dia.

TRATAMENTO - a água era captada do rio Piracicaba, vindo com grande mistura de terra, folhas e galhos de árvores e era decantada em três grandes aquedutos em desnível. A mistura passava lentamente e a sujeira, por ser mais pesada, se depositava no fundo, onde podia ser removida posteriormente. Três aquedutos faziam parte desse processo. O primeiro, que servia para captar a água do rio, existe até hoje numa das ilhas entre o Museu e a ponte antiga do Mirante. O segundo, que realizava a 2ª etapa da decantação, está nos fundos do Museu. O terceiro, fica embaixo do canal de água bruta, o qual além de receber a água já limpa, servia também como reservatório de onde a água chegava às bombas por efeito da gravidade.

Toda essa água era bombeada por dois conjuntos de turbina e bomba através de adutoras até o reservatório da rua Marechal Deodoro, para depois ser distribuída à população. No Canal de Água Bruta, após algumas mudanças arquitetônicas para a criação do Museu, além das grades de segurança e da passarela, existem nove orifícios que foram adornados com o formato de uma grande gota. Servem para a entrada de luz natural e ventilação do aqueduto localizado abaixo do canal. As “gotas” não existiam e não têm relação alguma com o sistema de tratamento de água que era utilizado naquela época. Pelo canal era levada a água utilizada para acionar os conjuntos de turbina e bomba, localizadas, na Casa de Bombas.

A água proveniente do rio seguia pelo canal até chegar e ser armazenada em um tanque, situado abaixo de onde hoje é o mirante do Museu. Ao descer por esse tubo, ganhava grande velocidade e força. Eram suficientes para acionar uma das turbinas, bombeando a água a uma razão de 90 litros de água por segundo, cada uma. A água, usada para movimentar as turbinas que eram acopladas às hidrobombas, seguia pelo canal e descia por esse tubo de ferro. Durante a queda, há um aumento na velocidade e, consequentemente, na força, aumentando a potência “do motor” do conjunto. A capacidade de bombeamento chegava a 90 l/s por bomba d´água. Agora, a única bomba que ali funciona durante as 24 horas do dia é acionada por energia elétrica e controlada por modernos painéis de comandos elétricos. Ela alimenta a caixa d´água da Praça Takaki, que abastece o bairro do Jaraguá.

O Museu da Água “Francisco Salgot Castillon” ocupa espaço de cerca de 12 mil m², às margens do Rio Piracicaba, ao lado do Salto, que pertenceram ao reservatório, e preserva seus detalhes arquitetônicos. Tombado pelo Codepac (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba), em 2002, o Museu hoje oferece visitações com foco na educação ambiental, e é administrado pela Sedema (Secretaria Municipal de Defesa do Meio Ambiente). Havia no local dois casarões, sendo um deles demolido na metade do século XX para dar lugar à avenida Beira Rio. Aprender a consumir água corretamente também é uma das atrações do museu. Enquanto lava as mãos, o visitante pode observar quanto está gastando. Os lavatórios possuem caixas transparentes com um medidor do volume de água. O mesmo sistema também é utilizado nos vasos sanitários.

Num dos aquedutos encontram-se três aquários com várias espécies de peixes do Rio Piracicaba. Através de fotos junto dos aquários, o visitante pode identificar os peixes, além de saber os que ainda podem ser encontrados no Rio Piracicaba, assim como as espécies em extinção. Horários de funcionamento: segunda-feira (fechado), terça à domingo, das 9h às 17h.

ACHADOS DO ARQUIVO - a série "Achados do Arquivo" se pauta na publicação de parte do acervo do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligados ao Departamento Administrativo, criada pelo setor de Documentação, em parceria com o Departamento de Comunicação Social, com publicações no site da Câmara, às sextas-feiras, como forma de tornar acessível ao público as informações do acervo da Casa de Leis.

 

Achados do Arquivo Documentação

Texto:  Martim Vieira - MTB 21.939
Supervisão:  Rodrigo Alves - MTB 42.583
Revisão:  Martim Vieira - MTB 21.939


Anexos:
transcrição d0102 (23).pdf


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