EM PIRACICABA (SP) 20 DE OUTUBRO DE 2022

Vídeos alertam para violência contra mulher e orientam sobre denúncia

Produções audiovisuais de até 2 minutos, com mensagens baseadas em casos reais de violência, devem ser lançadas em novembro.




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Crédito: Fabrice Desmonts - MTB 22.946


Vídeos que estão sendo produzidos em parceria com o Sesc Piracicaba vão alertar a população para a violência contra as mulheres e fornecer informações para estimular denúncias aos órgãos de proteção. A novidade foi apresentada na reunião realizada na Câmara com o grupo de trabalho que estuda meios de conscientizar as pessoas sobre a gravidade do problema.

O encontro ocorreu na tarde desta quarta-feira (19), na sala de reuniões do segundo andar do prédio anexo, e foi liderado pela vereadora Rai de Almeida. A parlamentar, em conjunto com a vereadora Silvia Morales, que foi representada por sua assessoria na reunião, tem mantido diálogo desde junho com representantes da administração municipal, de conselhos e de entidades para a realização de uma campanha de enfrentamento à violência de gênero.

A ideia é envolver diferentes segmentos da sociedade, inclusive as escolas e o comércio, para divulgar conteúdos informativos, que englobam desde as formas em que a violência se dá até as ferramentas para denunciar os crimes contra a mulher. Nesta quarta-feira, o grupo de trabalho, com integrantes que também compõem a Rede de Atendimento e Proteção à Mulher, voltou a se reunir para discutir os próximos passos da iniciativa.

A novidade ficou por conta de uma série de sete vídeos que alertará para a violência contra a mulher. Quatro deles, já finalizados, foram exibidos durante a reunião e receberam elogios pela linguagem usada. A produtora audiovisual Bruna Epiphanio coordenou as gravações, feitas em parceria com o Sesc Piracicaba. Com duração de até dois minutos, os clipes têm previsão de ser lançados oficialmente em 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher.

“São vídeos com sete histórias reais de sete mulheres. O objetivo é dar voz a essas mulheres e às situações que viveram, apesar de, pela curta duração, ter muita coisa ainda que não conseguimos explorar. Os relatos são baseados em boletins de ocorrência e em depoimentos que ouvimos e, em alguns, pegamos as falas dos homens, com encenação da mulher como se fosse o homem falando”, contextualizou Bruna.

Em um dos vídeos antecipados para o grupo de trabalho, uma atriz reproduz o depoimento de uma vítima de violência cujo marido não a deixava usar sapato de salto, nem pintar as unhas, e passou a ameaçá-la. “O que mais me abalou foi meu filho ter as mesmas atitudes do pai. Até que um dia encontrei uma faca escondida no sofá. Graças ao Cram, consegui me restabelecer e vi que não estava sozinha”, diz o relato, que faz referência ao apoio prestado pelo Centro de Referência de Atendimento à Mulher.

Rai de Almeida comentou o potencial de alcance dos vídeos, que, por terem curta duração, possibilitarão a exibição em espaços diversos, em conversas que o grupo de trabalho pretende manter com supermercados, shopping e terminais de ônibus, por exemplo. “Esses vídeos retratam a realidade de mulheres na nossa sociedade, ainda marcadas pela violência moral, psicológica, física, sexual e patrimonial. Ao decidirmos fazer esses vídeos, queremos trazer uma realidade para que a sociedade possa se sensibilizar e adotar medidas para que as mulheres não precisem passar por violações e tenham a tranquilidade de viverem bem em qualquer espaço de sua vida.”

Rai citou números que ilustram a gravidade da violência de gênero no país. “84% dos casos que chegam ao Judiciário são relativos a agressões praticadas por homens.” A vereadora também falou da importância do acolhimento às vítimas prestado pelas instituições e dos efeitos das agressões, dia após dia, sobre a saúde mental das mulheres. “Quem sofre entra num estado de total descontrole emocional.”

Marilda Soares, do Conselho Municipal da Mulher, observou que os vídeos falam da “situação de violência já consumada”. “A divulgação desse material tem o efeito positivo de alertar para o fato de que a violência pode acontecer em qualquer lugar, de qualquer forma. E existe sempre um relacionamento íntimo, próximo, afetivo que liga as pessoas envolvidas nesses casos e faz com aquela que sofre a violência esteja acuada. Afinal, o agressor é a pessoa com quem ela convive.”

Fabiana Campos, do Cram, comentou que os vídeos “retratam o que vemos no dia a dia no atendimento às mulheres” e elogiou a linguagem usada, propícia para alcançar o público. “Quando mulheres falam a outras das marcas que têm e de como superaram as agressões, isso tem um efeito diferente.”

A advogada Daniela Coimbra, da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Piracicaba, também enalteceu os clipes. “Estão muito diretos, claros e tocantes, e temos que espalhar isso.” Ela completou que a entidade, embora não preste atendimento direto às mulheres vítimas de violência, mantém convênio com a Defensoria Pública, que faz a triagem e, então, repassa os processos para os advogados do convênio.

João Gambaro, da Diretoria Regional de Ensino, falou do trabalho realizado em conjunto com as unidades da rede, com distribuição de cartilhas e abordagem feita por psicólogos. Luciane Silva, da Patrulha Maria da Penha, também destacou projeto da Guarda Civil Municipal, em escolas municipais, voltado a crianças do quinto ano, com informações para o combate da violência e outros temas. Representando a Polícia Militar, o major Bessa disse que a corporação “tem norma própria para agir” em casos de violência contra a mulher, sendo inadmissível qualquer tratamento jocoso no atendimento das ocorrências.

Os sete vídeos produzidos para a campanha devem ser disponibilizados inicialmente pela plataforma do Sesc. As gravações se somam aos cartazes que estão sendo elaborados pelo grupo de trabalho para, na sequência, também serem espalhados pela cidade com alertas à violência de gênero e informações sobre como denunciá-la.

Mulher Rai de Almeida

Texto:  Ricardo Vasques - MTB 49.918
Supervisão:  Rodrigo Alves - MTB 42.583

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