EM PIRACICABA (SP) 05 DE MAIO DE 2023

Encontro de Archimedes Dutra e Guilherme Vitti nos arquivos da Câmara

Setor de Gestão de Documentação revela tese de doutorado do pintor que foi dada, como presente, ao historiador




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Archimedes é o autor da tese “A Contribuição de Piracicaba a Arte Nacional”




Ao querido amigo Guilherme Vitti, com sincera amizade e grande admiração do Archimedes. Piracicaba, outubro de 1973”.

São com essas belas palavras que uma das maiores personalidades das expressões artísticas piracicabanas, Archimedes Dutra, envia uma cópia de sua tese de doutorado a um dos principais guardiões da história e da memória de Piracicaba, Guilherme Vitti. A amizade entre esses dois grandes personagens culminou na preservação, no acervo da Câmara, de um texto intitulado “A Contribuição de Piracicaba a Arte Nacional”, que foi apresentado para o doutoramento do pintor, escultor e professor Archimedes Dutra à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz (Esalq/USP).

O "encontro" de Archimedes e Guilherme é o destaque da série Achados do Arquivo, desenvolvido em parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo e o Departamento de Comunicação da Câmara Municipal de Piracicaba.

Archimedes Dutra se formou professor normalista em 1927. Foi premiado no Salão Nacional de Belas Artes em 1927, 1928, 1929, 1942 e 1943, no Rio de Janeiro. Entre 1935 e 1944, lecionou na Esalq. Em 1953, fundou a escola de música de Piracicaba. Vinte anos depois, doutorou-se com a tese “A contribuição de Piracicaba na Arte Nacional”, a obra que traz um panorama da arte piracicabana desde seus primórdios – anterior a 1º de agosto de 1767, data de fundação da cidade pelo então governo provincial de São Paulo. 

Na tese, inicialmente Archimedes registra o motivo de sua pesquisa, expressada pela poesia “A Terra”, onde se lê sumariamente:

Rugindo entre pedras, rolando em espumas,
No rumo das rochas o Salto estrondeja,
Na ânsia nervosa da prece que, em brumas,
Ao céu faz subir num canto de glória...
No hino da terra que o povo festeja,
Por seus predicados de larga expressão
Que escreve, sorrindo, nas lutas da História,
Com Cristo na mente e o livro na mão! [...] 

Em seguida, traz a história das artes plásticas na cidade, perpassando “Os tempos remotos - o ponto de vivência do Homem Primitivo das Américas” (Capítulo I), onde usa como referência a obra de José Anthero Pereira Junior “Inscrições Rupestres em Território Paulista’”, de 1961, bem como expõe imagens de inscrições rupestres gravadas nos paredões de basalto, “[...] daquele homem rude que pisou terras piracicabanas, em tempos memoráveis, já apontavam, nas marcas do seu temperamento sensível às expressões de beleza, uma trajetória pontilhada de expressivas e gloriosas conquistas, para as nossas artes”.

No capítulo seguinte, traz “Antecedentes históricos – nas terras de domínio dos índios Paiaguás”, relatando, entre eles, o descobrimento de um primitivo cemitério indígena cuja a existência marca 500 anos, sendo encontrado nele “uma preciosa quão valiosa igaçaba de cacique Paiaguá”, ratificando no texto ser “urgente um trabalho técnico de escavação, para retirada de muitas outras peças existentes no local.”

No capítulo III, a contemporaneidade histórica se faz presente, trazendo o “Desenvolvimento histórico da Piracicaba bicentenária: 1767-1967 - De Antônio Corrêa Barbosa, “Capitão Povoador”, ao comendador Luciano Guidotti, o grande prefeito". Logo de início, Archimedes traz a capa da Ata de Fundação da Cidade, de Frei Thomé de Jesus, quando de sua mudança para a margem esquerda do Rio Piracicaba – uma cópia está disponível no Atom.

Assim, traz elementos, partindo do geral para o particular, da arte, “enquanto expressão do espírito, [...] sendo divorciada do meio da qual é parte, que não aceita imposições, nem tampouco, se submete à transitoriedade das modas passageiras”. Trazendo a perspectiva da arte na colônia e no império, sendo estas, quase que exclusivamente a serviço religioso.

Ainda neste capítulo, ao particularizar e dissertar a arte, sobretudo a iconográfica, da província de São Paulo e do interior do Estado, relata que, além da capital, coube a época à escola Ituana lançar-se às primeiras tentativas de sua manifestação, por meio de Miguel Arcanjo Benício da Assunção Dutra, o popular “Miguelzinho”, que “inaugurava, na História das Artes Plásticas do Brasil, o capítulo novo da iconografia – gênero de pintura naturalista e descritiva por excelência.” Ao longo do desenvolvimento deste, Archimedes também disserta a biografia de Miguelzinho.

Em dado momento, Archimedes elenca, cronologicamente, um rol de artistas piracicabanos que, segundo ele, é de elementar justiça apresentá-los nominalmente. Ao todo, são 79 nomes que “bem representam setenta e nove vidas, postas a serviço do nosso engrandecimento artístico”. Ainda argumenta que “se a arte de São Paulo é exuberante como consequência da ação dos artistas estrangeiros vindos para cá como membros efetivos das ‘Missões Culturais’ e a serviço da Corte, a arte de Itu e Mogi das Cruzes se esplende pela originalidade e nacionalismo”. Já no que dispõe a Piracicaba, Archimedes escrevera que, “além das virtudes consagradoras desses outros centros, a arte toma um novo rumo de superior expressão, porque atingido as marcas reais do histórico, do social e do folclórico quando da fixação, pela imagem, do que foi a vida da nossa gente nos tempos imperiais”.

Finaliza escrevendo que “o realismo iconográfico nascente e positivamente efetivo em nossa terra pôde nos transmitir a verdadeira imagem de uma época através de numerosas peças artísticas e documentárias, numa mensagem do mais alto valor informativo e válida para todos os tempos por registrando, pelo desenho e pela cor, a realidade de um dos períodos mais importantes da organização nacional”. 

Archimedes Dutra, com o seu talento, letramento e intelectualidade, muito contribuiu à arte piracicabana e sua história, e o senhor Guilherme Vitti, com seu zelo e comprometimento quanto historiador e guardião de acervos, foi fundamental na preservação dos documentos e das memórias neles presentes.

ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" se pauta na publicação de parte do acervo do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo. Ela foi criada pelo setor de Documentação, em parceria com o Departamento de Comunicação Social, e conta com publicações semanais no site da Câmara, às sextas-feiras, como forma de tornar acessível ao público as informações do acervo da Câmara Municipal de Piracicaba. (Texto de Dayane Cristina Soldan, arquivista do Setor de Gestão de Documentação e Arquivos da Câmara Municipal de Piracicaba)

Achados do Arquivo Documentação

Supervisão:  Rebeca Paroli Makhoul - MTB 25.992
Revisão:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337

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