EM PIRACICABA (SP) 14 DE ABRIL DE 2023

Hino Nacional e o grande concerto da menina Ofélia do Nascimento

Na semana em que se comemora um dos símbolos da República, a série Achados do Arquivo revive concerto local no Centenário da Independência




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Ofélia do Nascimento aos 13 anos, quando se apresentou em Piracicaba





Na Piracicaba de 1922, as comemorações do Centenário da Independência do Brasil aconteciam em êxtase. Um dos momentos mais marcantes é o concerto da pianista Ofélia do Nascimento, que, com apenas 13 anos, surpreendeu a intelectualidade da época com apresentação no antigo Teatro Santo Estevam. O fato é destaque da série Achados do Arquivo desta semana, realizado em uma parceria entre o Departamento de Comunicação e o Setor de Gestão de Documentos e Arquivos da Câmara. 

Nascida em Ribeirão Preto, em 12 de julho de 1909, Ofélia se tornou uma pianista talentosa e alcançou fama internacional – tendo sido nomeada para o corpo docente do Conservatório Internacional de Música de Paris nos anos 1930. 

Os registros do concerto da menina Ofélia Nascimento estão na cápsula do tempo da Escola Estadual Sud Mennucci e a pesquisa foi realizada pelo estagiário de História, Gabriel Tenório Venâncio. 

Nela, há uma fotografia da pianista, com apenas 13 anos; um folheto do antigo teatro (onde é anunciado o evento, realizado em 11 de novembro de 1922); e o recital em que está detalhado todo o programa apresentado pela musicista, o qual inclui obras de Choppin e Beethoven, e que detalha, em sua 3ª parte, a interpretação da Grande Fantasia sobre o Hino Nacional, do pianista Louis Moreau Gottschalk. 

Aqui, vale abrir um parêntese.

Nascido em Nova Orleans, Gottschalk excursionou por diversos países da América do Sul, o que alimentava seu apoio à União na Guerra Civil Americana. Portanto, mesmo sendo sulista, ele era contrário à escravidão. No Brasil, a Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional – nome original de sua obra – foi escrita em homenagem à Condessa d’Eu, mais conhecida como Princesa Isabel, signatária da Lei Áurea de 1888. 

Fecha parêntese.

Voltando à cápsula do Sud Mennucci, outro documento, desta vez assinado pelo diretor da escola, Honorato Faustino, demonstra o fascínio suscitado pelas habilidades da pequena Ofélia do Nascimento:

 “Uma futura artista do piano. A menina de 13 anos, Ofélia Nascimento, de Ribeirão Preto, deu um concerto em Piracicaba. Tem uma técnica nomeável e vai estudar na Europa. Por este programa, executado magistralmente os pósteros proverão avaliar de que talento promissor se trata. Piracicaba, 14 de novembro de 1922. Honorato Faustino. ” (em transcrição livre para o português atual) 

Além de ter se tornado uma pianista reconhecida como profetizado anos antes por Honorato Faustino, Ofélia do Nascimento chegou a ser fichada em agosto de 1944 pelo DOPS/PE (Delegacia de Ordem Política e Social do Estado do Pernambuco) por ter se apresentado na Festa da Mocidade, um evento anualmente realizado entre os anos 1930 e 1960 e que na década de 40 tomou caráter contestação ao Estado Novo e a Getúlio Vargas. 

Os documentos relacionados à Ofélia do Nascimento e o concerto no Centenário da Independência podem ser acessados através do ATOM (Acces to Memory), disponibilizado no site oficial da Câmara. Também é possível ouvir a bela fantasia do Hino Nacional tocado pela pianista no Youtube, basta procurar por “Fantasia hino nacional Brasileiro, Ofélia do Nascimento). 

HINO E SUAS VERSÕES – Em 13 de abril de 1831 era tocado, pela primeira vez, no teatro São Pedro de Alcântara, o Hino Nacional Brasileiro! Por conta desse evento, o Dia do Hino foi instituído, mesmo que não oficialmente, em 13 de abril. Ao longo da história, o hino soou de diversas formas, e “tomou vida” pelas mãos do maestro Francisco Manuel da Silva.

Mas os eventos históricos brasileiros mudaram o Hino Nacional. A versão mais conhecida é o instrumental atual que não provém da República Federativa do Brasil, mas do Império Brasileiro! Em 1822, com a independência do Brasil, foi criado o Hino da Marcha Triunfal, com o mesmo ecoar instrumental que conhecemos atualmente. 

Essa foi a primeira vez que o povo brasileiro ouviu tal som. Em 1831, com a abdicação de Dom Pedro I, a marcha triunfal tornou-se o Hino Nacional Brasileiro e, em 1840, foi tocada na coroação de Dom Pedro II. 

A letra foi alternada nesses três períodos. Foi assim que as estrofes iniciais de cada hino: “Espera o Brasil que todos cumprais com o vosso dever” (1822), “Amanheceu finalmente a liberdade ao Brasil” (1831) e “Negar de Pedro as virtudes, seu talento escurecer” (1840) se tornaram esquecidas, dando assim abertura para o atual “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas”.

Em 1922, a letra composta por Osório Duque-Estrada (1870-1927) foi aprovada às pressas para as comemorações do Centenário da Independência do Brasil, tendo sido mantido o instrumental de um século antes.

ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" se pauta na publicação de parte do acervo do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo. Ela foi criada pelo setor de Documentação, em parceria com o Departamento de Comunicação Social, e conta com publicações semanais no site da Câmara, às sextas-feiras, como forma de tornar acessível ao público as informações do acervo da Câmara Municipal de Piracicaba.

Achados do Arquivo Documentação

Texto:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337
Supervisão:  Rebeca Paroli Makhoul - MTB 25.992

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