Wagnão defende transparência no atendimento público de saúde
Na Câmara, Alessandra quer somar trabalho de 30 anos à causa animal
Vereadora eleita com 1.459 votos para o 1º mandato pretende usar conhecimento na área para formular políticas que transformem o perfil do Centro de Controle de Zoonoses.
Alessandra Bellucci em visita à Câmara, no último dia 16 de novembro
Crédito: Guilherme Leite - MTB 21.401Com 30 anos de trabalhos voltados à proteção dos animais, Alessandra Bellucci, 46, pretende colaborar com políticas públicas para a área em seu primeiro mandato como vereadora. "Quero contribuir com experiências de outros lugares que conheço e ter um olhar que visa à compaixão pelo próximo", diz a parlamentar, filiada ao Republicanos e eleita para a próxima legislatura da Câmara com 1.459 votos.
A iniciação de Alessandra na política inaugura nova etapa de uma vida marcada por dedicação, superação e mudanças no caminho. Nascida em 31 de março de 1974, em São Paulo ––cidade da mãe, Telma––, ela veio para Piracicaba aos 10 anos em razão do trabalho de representante comercial do pai, cuja família é dona de uma fábrica de meias e tecidos em Cerquilho (SP) ––terra natal de Onecimo, já falecido.
Aluna do Dom Bosco Assunção até completar o ensino médio, Alessandra manifestava, desde a adolescência, o desejo de seguir carreira em medicina veterinária. Mas os planos mudaram quando estava no curso preparatório para o vestibular, no CLQ. "No meio do cursinho, contraí meningite gravíssima, quase morri. Tive sequela, amnésia parcial, e tive que desistir, parar meus estudos."
Sonho interrompido, Alessandra passou a trabalhar com o pai como representante comercial da fábrica de Cerquilho. Mas foi na faculdade, agora como aluna de letras da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), que o tino de vendedora se acentuou. O bom gosto da caloura ao se vestir chamava a atenção nos corredores e, com frequência, amigas perguntavam onde Alessandra comprava suas roupas.
As idas a São Paulo atrás de pechinchas passaram, então, a incluir mais sacolas na volta, e foi com o dinheiro das vendas de peças da moda que a jovem pagava as mensalidades do curso. A oportunidade que se abria à frente levou a então estudante graduada em letras às planilhas de seu primeiro negócio como empresária. Alessandra comandou uma loja de roupas por 12 anos. Teve de vendê-la, às próprias funcionárias, quando decidiu se dedicar exclusivamente à gerência do restaurante montado pelo pai na avenida Saldanha Marinho.
A vida adulta, porém, continuava a exigir a superação dos obstáculos da juventude. "Fiquei grávida duas vezes, lá atrás, com 20 anos, e perdi os dois bebês. Tive o diagnóstico de uma médica de que eu não formava o trato gestacional. Diziam que só com tratamento eu conseguiria novamente engravidar e levar a gestação adiante; eu fiz, mas, mesmo assim, não engravidei mais."
Duas décadas se passaram desde o diagnóstico. Aos 43, Alessandra, que namora Reginaldo há oito anos, engravidou de Maria Luisa, hoje com três anos. "Minha médica fala até hoje que foi milagre essa gravidez." A filha tomou o gosto pelos animais já na barriga da mãe. "Todo mundo achava: 'Vai ter uma filha e não vai mais cuidar dos animais'. Muito pelo contrário: a Maria Luisa é apaixonada pelos animais. Eu, grávida de sete meses, entrava em comunidade para resgatar pitbull."
As histórias de amor aos animais e de persistência na gravidez foram destaque mais de uma vez na EPTV, afiliada da Rede Globo na região. "Quando uma das repórteres ficou sabendo que tive bebê, fez matéria de Dia das Mães para as mulheres não desistirem de ter filhos", conta a empresária, sobre uma das reportagens levadas ao ar pela emissora.
RESGATE - Alessandra fixou residência há 25 anos numa chácara no bairro Dois Córregos, onde cuida de 40 cachorros e uma porca. "Os cachorros foram acolhidos de maus-tratos, e não consegui inseri-los em outros lares, pois ou são idosos ou estão sem uma perna, orelhas. Fiz tentativas de doação, mas não foram escolhidos por ninguém e acabaram ficando aqui."
E a porca? "Foi um resgate também. A pessoa comprou dois irmãos, o macho e a fêmea. A fêmea não engordava, pois o irmão não a deixava comer, e essa pessoa comentou que ia matá-la, não ia nem alimentá-la porque não ia vingar." Hoje, Judite está prestes a completar um ano e é mais um animal de uma lista que inclui gatos, tartarugas, calopsitas, papagaios, coelhos e cavalos também salvos por Alessandra.
"Sempre fui protetora de animais, sempre tive compaixão. Uma coisa inexplicável, até porque meus pais não têm toda essa afinidade que eu tenho. A minha mãe conta muitas histórias, por exemplo, de que, quando eu tinha 7 anos, as nossas duas gatas, Xuxa e Miúcha, apareciam com passarinho, rato na boca, e eu tentava a qualquer custo salvar a vida deles", ilustra.
Contando apenas os cachorros que resgatou, Alessandra calcula terem passado por sua atual residência mais de 1 mil, "com toda a certeza". O acolhimento feito pela vereadora eleita, que acrescentou "Protetora Animais" ao seu nome nas urnas, inclui garantir que os bichos passem por castração e vacinação antes das tentativas de inseri-los em novos lares. Para isso, ela usa recursos próprios e conta com doações de insumos e ração. "Sempre fui independente. Ajudei muitas ONGs em Piracicaba, fiz captação de verba para elas, mas preferi trabalhar sozinha."
"Jamais tive pretensão política, mas chegou uma época da minha vida em que não tenho mais o que fazer como protetora, porque você acaba fazendo o trabalho do Poder Público: resgata, promove a castração, a adoção, retira os animais das ruas, retira os animais em situação de maus-tratos, enfrenta a resistência de donos, locais perigosos. Eu preciso contribuir com a minha experiência para mudarmos um pouco a realidade da nossa cidade", diz.
A preparação com vistas a uma atuação política teve início com visitas ao Centro de Controle de Zooneses de municípios da região. "Há cinco anos comecei a estudar soluções para animais de rua, abandonos, maus-tratos e os CCZ de outras cidades que fazem um trabalho diferente do de Piracicaba, como os de Rio Claro, Americana, Sumaré e Limeira."
Alessandra considera o órgão local ––que abriga o Canil Municipal e com quem afirma ter boa relação e "portas abertas"–– "totalmente engessado, que não evolui", focado apenas em retirar das ruas animais que possam oferecer riscos ao ser humano, sem, no entanto, se preocupar em, na sequência, garantir o bem-estar deles.
"Hoje temos um CCZ totalmente ligado às zooneses [doenças transmitidas entre animais e pessoas], que não é ligado aos animais. Eles vão para lá, se recuperam, continuam a viver em baias minúsculas de recuperação sozinhos, isolados de outros animais. Não é feito um trabalho digno de divulgação desses animais para eles saírem de lá e serem adotados", critica.
A empresária diz que, como vereadora, poderá mostrar, "com números, o que está dando certo em outras cidades", algumas com estrutura de CCZ menores que Piracicaba e "que estão na frente". "Depende de trabalho, de vontade; não são só recursos, porque hoje, com a estrutura que temos, muita coisa já poderia estar acontecendo. Quando você não tem dinheiro, mas consegue organizar e fazer um trabalho diferente, você tenta mudar a realidade com o que tem."
NA CÂMARA - Alessandra diz ter como primeira proposta a levar à apreciação na Câmara a criação do Fórum de Defesa Animal, em que pretende reunir pessoas ligadas ao meio ambiente e representantes de entidades e do Poder Público para discutir o tema. Também está entre suas intenções "um leque de projetos ligados ao bem-estar animal". "Pretendo ser uma vereadora apartidária. Não quero brigar com partido nenhum, mas defender a causa social que precisa de ajuda, pois acredito que ela deve ser vista igual por todo mundo."
Para Alessandra, é impossível dissociar a luta pelos animais das carências que afetam as pessoas. "Quando se fala em proteção animal, engloba proteger uma sociedade como um todo, pois você se depara muitas vezes com o problema social e acaba não ajudando só o animal, mas uma família inteira. Quantas vezes fui socorrer o animal e ajudei a família inteira, que passava dificuldade? Já fui ver denúncia de animal com sarna em que a criança também tinha sarna, e você começa a perceber que tem um buraco mais embaixo."
"E isso é geral: em toda denúncia de animais passando fome, por trás dela existe um ser humano passando fome. Não dá para separar: você acaba entrando numa problemática de causa social, de pessoas menos favorecidas, de comunidades inteiras sem saneamento básico, sem recursos. E esta é minha bandeira, porque nunca são só os animais", analisa.
A eleição para vereadora em sua primeira tentativa como candidata, com a 12ª maior votação entre os 23 que conquistaram uma cadeira, é o reconhecimento, segundo Alessandra, de sua atuação na sociedade. "Não mudei nada da minha vida no tempo de campanha, não saí como pré-candidata, e trabalhei o meu dia a dia como há 30 anos."
"Não saí por aí pedindo voto; pelo contrário, pessoas que falaram que votariam em mim pediram material para fazer campanha por mim. Apenas mostrei para as pessoas, de uma maneira mais visível, projetos pelos quais precisamos lutar para que sejam acolhidos pelo Poder Público e para que o que temos em Piracicaba comece a caminhar de maneira diferente."
Para a vereadora eleita, os que a conhecem podem aguardar que sua atuação na Câmara seja uma extensão da dedicação de mais de três décadas a animais e pessoas. "Alguém com uma visão mais ampla do que a nossa sociedade pode representar quanto à proteção social, a problemas de famílias, a carências. Quero contribuir para as políticas públicas, ver para onde estão indo as verbas, aprimorar leis e modernizar o que está arcaico. Será como sempre caminhei nos meus 30 anos, mas contribuindo de uma maneira diferente."
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